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15.7.04

Lindos números inúteis

Saiu agora o ranking internacional do Índice de Desenvolvimento Humano. Orgulho para uns, vergonha para outros, os índices mostram quão bem está o povo de um lugar. Mostram? Hoje em dia, temos uma profusão de índices para praticamente qualquer coisa. Temos índices de corrupção, machismo, liberdade de imprensa, militarismo... Só de "primos" do IDH, são uns 13. O PNUD, então, ama usá-los para análises comparativas.

Tudo besteira. Primeiro porque, apesar dos esforços do PNUD e outros no sentido de homogeneizar a metodologia, os países são quem colhe essa informação, e com métodos diferentes. Pior: com métodos que mudam com o tempo, e a idéia de manter a série antiga junto com a nova seria ótima, se não fosse que a série antiga muitas vezes é ridícula (como por exemplo o atual índice de desemprego do Brasil, a ser trocado até 2006). Isso quando não são números completamente despropositados, como o índice de urbanização brasileiro, mencionado num post abaixo. Mas mesmo quando a mudança de números reflete uma melhora na quantidade e qualidade de informação, ela invalida uma análise comparativa. E tem os números que mudam pra melhor sem uma realidade equivalente. Boa parte da melhora do IDH brasileiro de educação na década de 90 deve-se a mudanças nas contas, não nas escolas.

Não estou falando apenas dos rankings, estilo campeonato por pontos corridos. Esses servem só pra encher jornal e conversar no boteco (ou, internacionalmente, num webforum à orkut). Mas a utilização desses índices que reduzem realidades complexas a conjuntos numéricos faz pensar que são comparáveis os tais números. E muitas vezes eles falam de coisas completamente distintas. Mesmo dentro da OCDE, que faz há décadas um esforço para estabelecer números realmente comparáveis.

O mais próximo de números comparáveis mundo afora que existe são os indicadores econômicos - e mesmo esses, tratados como se fossem realidade bruta, não são lá tão confiáveis assim. Il Sorpasso foi alcançado quando a Itália aumentou a conta do mercado negro no cálculo do PIB.

Não que eu não continue gostando de olhar pras tabelinhas e gráficos e mapas, mas afinal eu gostava de jogar RPG, e eles também têm um monte de tabelas, gráficos e números representando fantasias.

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