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30.9.04

Sharon Matheus

Depois das cenas de assalto na Praia do Leblon, tem gente por aí exigindo que a polícia seja mais "dura" e "vença a guerra."

Só pra lembrar, "guerra" não é modo de dizer.

Se polícia "dura" resolvesse o crime, o Rio era pra ser mais pacífico do que Oslo, ao invés de ter acabado de superar Bogotá e Johannesburgo em número de mortos. Pelo contrário, é exatamente a atitude de impunidade, que deixa a polícia cometer o crime de matar gente, que faz com que o crime de deixar pra lá o assalto não tenha importância. A função da polícia do Rio deixou de ser policiar a cidade, e passou a ser a "guerra" ao tráfico. Pra todos os efeitos práticos, o Rio hoje é uma cidade sem polícia, enquanto as favelas são um território ocupado por um exército invasor. O criminoso é visto como se fosse uma mancha a ser apagada, ao invés do crime ser visto como uma situação a ser administrada. Parece que esse povo nunca soube da distinção entre poder e força; ou que o crime baixa, não pela força imposta a ele, mas porque o criminoso é enredado num jogo, também chamado de lei. O criminoso que sabe que "assalto" dá 3 meses mas "lesão" dá 3 anos tem muito menos chance de cometer um crime do que aquele para quem "polícia" dá porrada, não importa o que ele tenha feito. Não é coincidência que nos EUA seja entre os bairros de pretos e imigrantes que a criminalidade fique parecida com a daqui.

Aliás, graças a Deus a guarda municipal não anda armada. Porque eles também, ao invés de manter a ordem pública, fazem as batalhas campais no centro da cidade. A atitude geral é a mesma - "fazer" alguma coisa é melhor do que manter a cidade sem que coisas ruins aconteçam. Boa administração, ao invés de ser vista como o governo tão bom que nem se repara nele, é confundida com "fazer" - obras, porradas, não importa. Tem que ser visível.

O impressionante é que funciona. Queria saber se esse povo ia gostar de ter um pai que fizesse obra em casa o tempo, sem saber pra que ou não mudando nada, e ia preferir uma mãe que batesse no filho o tempo todo a uma cujo filho não fizesse cagada.

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