Pesquisar este blog

5.5.05

Power falácias

Inspirada no artigo da Carta Maior, que de tantas falácias por parágrafo parece um artigo da Veja, aqui vão algumas falácias associadas à geração de energia.* O próprio artigo tem outras, mas argumentar com cretinismos é foda.


A associação entre armas nucleares e energia nuclear. Alguém aí associa a sua escova de dentes de plástico à indústria armamentista? Vai deixar de andar de avião? (Já que a Boeing faz aviões de guerra)

"A energia termonuclear é perigosa." O risco é catastrófico, mas baixíssimo. Nesses 50 anos, só um acidente grave em uma usina com manutenção razoável aconteceu, em Three Mile Island, e 12 na mixórdia que é o parque nuclear russo.

"A energia nuclear é barata." Com as medidas de segurança necessárias para que a parte do risco aí em cima seja verdadeira, ela é mais cara do que a energia eólica.

"As pequenas usinas hidrelétricas são "ecológicas." Se você inunda 1Km2 para gerar um MW, está inundando muito mais área, somando tudo, do que Itaipú (13.000MW, 1000Km2). Para uma demonstração prática do que isso quer dizer, pegue uma máquina do tempo e experimente o pea-soup fog gerado pelos braseiros da Londres vitoriana.

"As usinas hidrelétricas são baratas." Seriam, se os rios aproveitáveis das regiões industrializadas não estivessem todos já em utilização, ou se existissem cabos supercondutores. Uma usina na Amazônia mandando energia pro Sudeste perde metade pelo caminho.

"A Amazônia não é um bom local para hidroelétricas." Balbina foi só burrice pura. A descida do planalto central, no Xingu e no Tocantins, é excelente para hidroelétricas. Mesmo sem regular o fluxo do Xingu com outras hidrelétricas, Belo Monte geraria 12MW/Km2

"Falar só na área do lago de uma hidroelétrica como "área afetada." Na Amazônia, abrir estradas e concentrar peões tem uma dinâmica própria, e extremamente destrutiva.

"Os equipamentos já foram comprados, e outra usina no mesmo lugar não tem problemas a mais." Mas as obras de engenharia civil, a parte mais cara, ainda estão por fazer. E o sítio é uma meeeerda. Angra II saiu cara por conta disso.

"Biocombustíveis são ecológicos." A não ser que você restrinja "ecológico" a "efeito estufa," a afirmação é discutível. A monocultura de alto rendimento é extremamente nociva, ambiental e socialmente. O proálcool gerou milhões de sem-terra. Melhor seria ter usado a sobra de energia elétrica para eletrificar as estradas de ferro.

"O Brasil pode ganhar a energia de uma Itaipú diminuindo as perdas na transmissão." Boa parte da explicação pelas perdas na transmissão dentro do sistema elétrico brasileiro está simplesmente na concentração em hidrelétricas. Quanto maior a distância a ser percorrida pelo cabo, mais se perde. Isso não pode ser eliminado, a não ser que se carregue o parque industrial brasileiro para Itaipú.





*Como qualquer coisa altamente politizada, os que politizam a questão técnica são sempre os outros...

Nenhum comentário: