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19.7.05

Capitalismo se for

Post atrasadíssimo devido à preguiça :

A reação à prisão da filha das Lú foi proporcional ao impacto que a fundação da loja tinha conseguido, pouco antes. Dividiu o país - ou melhor, suas chattering classes, mais ou menos, entre "direita" e "esquerda," mostrando que o grau de polarização brasileiro já está pelo menos tão alto quanto nos EUA, e a relevância da classificação de mãos, apesar da sua nebulosidade.

Houve muito de jacobinismo nos que comemoraram a prisão da Eliana Tranchesi, sem dúvida, e o jacobinismo não é privilégio da esquerda ou contra a direita, que o digam as críticas do Elio Gaspari ao fato de Brasília continuar usando poltronas Barcelona. Mas o interessante, pra mim pelo menos, foi o insólito de algumas das reações de apoio à moça. Primeiro, que a FIESP tenha se mobilizado pra defender uma importadora. Normalmente, que eu saiba, associações industriais pedem que se compre seus produtos, ao invés de partir em defesa da concorrente.

Segundo, a associação que se fez por aí entre a Daslú e o capitalismo. Ora, o espírito do capitalismo pode ter mudado muito desde Weber, mas a princípio, simplificando grosseiramente, capitalismo seria a acumulação de capital (adiando a fruição da riqueza) para investimento. Não tem absolutamente nada a ver com uma elite em que governo e riqueza privada se confundem comprando artigos de luxo importados. Duvida que governo e riqueza privada se confundem? Peça à primeira-dasluzete Sofia Alckmin que lhe venda um Mercedes, e vá ao aeroporto de Congonhas, para pegar seu jatinho em direção ao aeroporto José Sarney. Como jatinhos não têm tanta autonomia de vôo assim, pare para reabastecer no aeroporto Luís Eduardo Magalhães. De lá, desça ao Mato Grosso, e pergunte aos órgãos de proteção do meio ambiente do Mato Grosso como vai a fiscalização sobre as fazendas Maggi.

"Capitalismo," no vocabulário político brasileiro, parece ter sido pervertido para significar os interesses dos ricos. Nada contra a migração semântica, se não continuassem a usar todas as conotações e associações ligadas ao significado original da palavra. "Capitalismo," no sentido tupiniquim, não tem nada a ver com o "capitalismo" que seria capaz de gerar renda, teria a ver com liberdade de oportunidades, etc...

Pra não limpar a barra do capitalismo (sentido gringo), tenho que ressalvar que a matéria elogiosa da Exame aos fazendeiros donos de escravos faz todo o sentido. Ao contrário do que Marx pensava, o Brasil demonstrou que capitalismo é compatível com escravos, sim. (Curiosidade: um dos primeiros a demonstrar isso foi o FH).

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