Pesquisar este blog

31.8.05

Opção de saída

Uma das maiores forças pressionando os estados nacionais, hoje em dia, no sentido de reformas "liberalizantes" é a opção de saída das múltis. É basicamente uma forma de chantagem, possibilitada pelo custo cada vez menor do transporte e da comunicação, que permite às empresas carregar a sua produção pra qualquer lugar do mundo, desde que haja trabalhadores qualificados. E graças à revolução educacional, combinada com o "pós-fordismo," há não só trabalhadores qualificados, mas trabalhadores desempregados em qualquer lugar do mundo. Então, "se você não cortar benefícios trabalhistas, tchau" passou a ser uma ameaça constante, exigindo as "reformas" que qualquer país precisa estar fazendo - "estar fazendo" não é gerundismo, é para assinalar o fato de que, para "o mercado," encarnado nas agências de classificação, um país precisa estar num processo permanente de reforma pró-corporativa. E como trabalhadores desempregados abundam no mundo inteiro, e o novo patamar de fusões e aquisições dá às múltis um poder cada vez maior em qualquer país, não há governo que não tenha medo da opção de saída.

No Brasil, por algum motivo estranho, os burocratas do BNDES, desde a venda das empresas estatais (sempre é bom lembrar que dez das dez maiores empresas nacionais são estatais ou ex-estatais), passara a achar que "o que é bom para a Vale é bom para o Brasil," e vêm tentando estimular, inclusive, que elas se tornem múltis. Bem...

Vale reavalia investimentos em hidrelétricas no Brasil

O aumento dos custos de geração e transporte de energia estão levando a Vale do Rio Doce a reavaliar seus investimentos geração elétrica no país. O presidente da companhia, Roger Agnelli, disse que estão em analise alternativas à construção de hidrelétricas. Uma dessas alternativas seria a construção de termoelétricas movidas a carvão mineral próximas às unidades industriais consumidoras. O carvão seria trazido pela Vale de minas no exterior.

A logística de importação de carvão e os custos de geração desse tipo de energia ainda estão em estudo na companhia. Uma outra alternativa, mais radical, segundo Agnelli, seria buscar investimentos em mineração em outras regiões, em especial a África, onde a energia é mais barata.

"Hoje, nossa preocupação é suprir nossa necessidade de consumo de energia. Mas não estamos conseguindo expandir o suprimento no mesmo ritmo em que nosso consumo aumenta. E, sem essa infra-estrutura, vamos ter que procurar oportunidades onde há disponibilidade de energia a preços acessíveis", afirmou.

O presidente da Vale diz que a companhia está buscando oportunidades de investimento em países como Moçambique, Angola, Gabão, China, Austrália e Venezuela, nas áreas de carvão, cobre, fosfato e manganês. "Não dá para considerar uma nova fundição de alumínio no Brasil por conta do risco de déficit ou de aumento de preço da energia. Mas na África temos energia a custos baixos."

Diga-se de passagem, o que ele quer dizer é "na África não há licenciamento ambiental." Se bem que no Brasil ele é meio capenga, tanto que a Vale pensa nesse estrupício que são usinas a carvão. Um dos resultados brilhantes dos anos tucanos parece que vai ser a degradação definitiva do perfil energético brasileiro, em termos de sustentabilidade. Não que isso tenha alguma relação direta com os tucanos, como a Dilma ou o Wagner Victer poderiam lembrar, a questão é que, a partir da reformulação das regras do setor elétrico, termelétricas, com o custo de investimento inicial baixo em relação ao custo total, passaram a ser mais atraentes.

Bom, isso e eu acabo de ouvir na BBC um sujeito falar sobre a escassez de refino no mundo "nobody wants to have a refinery in their backyard." Bem, nobody but us imbeciles, aparentemente. A previsão é de que, entre termoelétricas e indústria pesada, em 2015 o Rio tenha um ar 3 vezes mais poluído que o de São Paulo.

Nenhum comentário: