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10.9.05

Achando bonito não ter o que comer

Inspirado pelo post do André no Contra o Consenso, aí do lado, resolvi pôr essa imitação barata aqui. Imitação barata porque o sentimento é parecido - apesar de eu não achar que ele seja contraditório. Nacionalismo não é simplesmente o amor pela sua terra, ele é o amor pela sua Nação. Atente para a letra maiúscula, que ela é importante. Gostar da sua terra não implica em pensar que existe alguma clivagem absoluta entre ela e outras terras, que é a grande invenção do nacionalismo. Há muito pouca gente que pense em termos nacionalistas sobre sua cidade, por exemplo. Garotinho e afins reclamam de não haver fluminenses no ministério, mas ninguém pensa que é um horror sermos governados por um paulista.

Bem, na verdade a grande invenção do nacionalismo é criar a comunidade imaginária maior. Antes dele, acharíamos paulistas estrangeiros, sim. Então, se por um lado eu detesto o nacionalismo por que ele implica na noção de estrangeiro, que eu acho horrível, por outro lado tenho que reconhecer que ele não criou a noção, apenas deslocou suas fronteiras. E justiça seja feita, por mais exacerbado que seja, o nacionalismo brasileiro é dos menos ofensivos. Raramente é identificado com a virilidade militar, com a defesa do governo, ou com uma xenofobia que vá além da paranóia anti-ianque. Se é para ser nacionalista, melhor ter orgulho de Kaká, Robinho e dos dois Ronaldinhos do que do porta-aviões ou de uma pretensa superioridade moral. E é um nacionalismo surpreendentemente inclusivo, mesmo comparado com países, como os anglo-saxões, com muito mais imigrantes; se por um lado o pobre-coitado morto na cela da PF virou "o chinês," por outro lado o índice de segregação espacial brasileiro, até pra chineses, é o mais baixo que se pode encontrar, e o de exogamia o mais alto. (Deixa pra depois a discussão sobre o quanto isso revela uma lógica de preconceito diferente, mais do que a sua ausência.)

Então aqui vai um feliz aniversário atrasado ao país Más Grande del Mundo. Que daqui a vinte anos ele faça jus ao título autoconcedido, com linha de Maglev, educação secundária universal e um Gini-renda abaixo de 45, que Jun Sakamoto seja mais conhecido do que YSL e a Rua do Ouvidor mais tchuns que a Park Avenue, o Rio Grande do Norte tenha mais turistas e moinhos de vento do que a Catalunya e Manaus mais pesquisadores e instalações portuárias do que Chicago.

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