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16.8.06

Pero que las hay...

Tem gente dizendo que o manifesto do PCC pelos direitos humanos, ao invés de prova definitiva do surrealismo que é o Brasil, seria uma armação. Teria sido escrito pela própria secretaria de tortura e extermínio, digo, de segurança pública, de São Paulo.

Não gosto de teorias de conspiração, e muito menos das mundanas. Acho o mundo das sombras e dos mistérios fascinante, mas prefiro deixá-lo nas sombras entre as letras de uma página a imaginar que fosse real, prefiro a realidade dita como se fosse mentira à mentira dita como se verdade fosse; e ainda que procurasse um mundo secreto, seria o dos djinns e shaitans, dybbuks e exus, nunca o dos Jack Bauers e James Bonds. Aliás, cada vez mais, James Bond só me interessa pelo lado das Bond Girls.

Mas conspirações, volta e meia, existem. A Operação Brother Sam, descartada como paranóia esquerdista, era na verdade bem maior do que na lenda. Os acordos secretos do fin de siècle existiam, e tiveram influência na formação da Grande Guerra. Até o Ouro de Moscou existia, se bem menor do que diziam.

E temos, dessa vez, por um lado uma organização vendida como genial fazendo, na TV, um conjunto de exigências genéricas (o que vai contra a lógica de sequestros), quando ela sabe que toda a população lhe odeia e que, portanto, ver esse conjunto de exigências na sua boca vai deslegitimar todas elas a ponto de torná-las impossíveis. E isso apesar de ter uma pá de organizações legítimas e respeitadas fazendo as mesmas exigências, que se resumem a um mínimo de decência e direitos humanos, na prática.

Ora, as tropas do secretário Saulo Ramos já fizeram todo tipo de ilações e sugestões ligando o PCC a essas organizações legítimas, além de ao PT e na tentativa de caracterizar o grupo criminoso como "comando político." Até inventaram de chamar a organização mafiosa de "organização em células terroristas," pelo visto um outro nome para "bandos criminosos sem comando organizado," que é a forma normal de um grupo desses, e não tem nada a ver com uma verdadeira organização de células terrorista.

Então, por que não acreditar que essas pessoas, que já estão mentindo, mintam mais, dessa vez sequestrando um repórter? Não é como se sequestro e assassinato de inocentes estivessem fora do seu portifólio, comprovado. E o ódio aos direitos humanos nutrido por esse povo, expresso no cartaz do deputado Bolsonaro que reza "direitos humanos : lixeira de bandido," foi o que engordou com o vídeo da Globo, não qualquer bandeira do PCC.

Detalhe - o tal regime disciplinar diferenciado combina coisas realmente úteis para se isolar chefes criminosos, como a exigência de microfone para agentes penitenciários chegarem perto, com a coisa absolutamente desumana que são 22 horas por dia na solitária. Sua origem está em prisões supermax americanas, que também envolvem o uso de eletrochoques e gás valium no tratamento dos prisioneiros. Tinha que acabar mesmo, não importa se o PCC ou Lúcifer também são contra.

O engraçado é que se apresenta a repressão, ignorando os direitos humanos, ou o aumento do crime/terrorismo/seiláquê como uma "escolha de sofia." O dilema é tão falso que se pode demonstrar que, pelo contrário, existe uma correlação positiva muito forte entre os dois, e temporalmente defasada no sentido terror de cima/terror de baixo. Isso é, o "endurecimento" não é só vergonhoso. Ele alimenta aquilo que supostamente reprimiria.

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