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5.9.06

Dove II

Tá, eu sei, além de não ser nem um pouco original, é um resmungo meu que já foi postado antes. Mas fazer o quê? A propaganda de sabonete de aveia Davene fala "descubra porque as melhores coisas vêm do campo" ou coisa que o valha, mostrando umas beldades louras pagando de camponesas. O que é legal na propaganda, pra mim, é que ela explicita o que todas essas modelos brasileiras loiras só deixam implícito. Quero dizer, são talvez uns 10% da população brasileira, sendo generoso, que têm fenótipo norte-europeu, mas essa proporção tá ao contrário no mercado de modelos. Isso tem mais de identificação da europeidade com o bom do que com uma preferência estética completamente eletivo; além da oposição preto/loiro cotidiana, a propaganda da Davene deixa isso claro ao situar as modelos gaúchas num campo europeu. Até porque a área plantada com aveia no Brasil, no Paraná e SC, é insignificante.

Tá, não é exatamente a mesma reclamação quanto às branquelas da Dove, porque esse mercado que quer as modelos brasileiras, mas branquelas, é mundial. A brasileira é exótica o bastante pra ser a terceiromundista, latina caliente, mas pode ser branquela, ergo bonita. O exótico, o não branco, é só sugerido, mas não precisa aparecer na revista. Sim, existem modelos internacionais não-brancas, mas são muito poucas, e mesmo essas no mais das vezes apresentadas com extremos de exotização de deixar um japoniste do fin de siècle envergonhado. O que torna de uma hipocrisia extrema as reações chocadas (e até imbuídas de um certo preconceito contra o "terceiro mundo preconceituoso") à miss Boliviana que, sentindo o racismo alheio, tentou exorcizá-lo se bandeando pro lado dos brancos ao invés de denunciando, quando declarou que na Bolívia também tem muita gente branca e bonita.

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