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19.12.07

Batendo só em chico

Há um tempo atrás, reclamei de como a Amazônia era o equivalente vegetal da "megafauna carismática," aqueles bichos que, por serem fofinhos, absorvem uma quantidade desproporcional da preocupação pública com sua preservação, e assim fazem com que se perca uma visão apropriada do problema como um todo.

Bem, no caso da transposição (ou seria Transposição) do rio São Francisco, acho que um processo primo desse tá acontecendo, devido à relativa falta de atenção dada a duas ações governamentais diferentes, uma inegavelmente positiva, a outra, dependendo de a quem você perguntar, negativa.

A positiva é o programa um milhão de cisternas, que faz parte do Fome Zero, e é implementada pela Articulação pelo Semi-Árido, um esforço conjunto de diversas organizações. Esse programa, reconhecendo que o índice pluviométrico anual do semi-árido é equivalente ao de Londres, ao invés de abastecer as casas dos seus moradores com caros (tanto na implantação quanto na manutenção) e frágeis sistemas de desvio de águas distantes, ao invés disso constrói (com mão de obra local) cisternas de baixo custo, capazes de captar água da chuva, tratá-la, e guardar o bastante para abastecer uma família por oito meses. Já foram construídas, ao custo de 200 milhões, duzentas mil cisternas.

A que depende, mas certamente todos os críticos da transposição deveriam ver como negativa, é o conjunto de programas de irrigação tendo o rio como fonte de água. Esse conjunto, descontados os programas já existentes, pensando só nos que foram anunciados para os próximos cinco anos pelos governos estaduais e federal, ou estão em construção agora, deve drenar do Velho Chico mais de 10 vezes a quantidade de água a ser desviada pela transposição. A imensa maioria dessa água está destinada a suprir plantações comerciais para exportação. O único dos problemas com a transposição que não está presente, e em muito maior escala, em iniciativas correntes e que não chamam gritaria nacional, é justamente o que praticamente ninguém menciona quando ataca a transposição, que é o dano que água perene causa a ecossistemas que não estão acostumados com ela. Fora isso, a salinização da terra, o incentivo à concentração fundiária, a diminuição do nível do rio, tudo isso é igualzinho. Bem, igualzinho só que dez vezes (literalmente) pior.

11.12.07

Elogio da guerra I - manifesto da crueza

Um grande bafafá está rolando depois que o César Maia levou ao conhecimento da classe política fotos vazadas por policiais. As tais fotos mostrariam vítimas de execuções sumárias. O que é curioso, pra mim, na discussão, é que pelo tom adotado tanto pelo pessoal do espancar e matar quanto pelo pessoal dos direitos humanos é de que essas fotos glorificam a violência.

E, bem, pode até ser verdade. Mas fotos cruas dos mortos foram, em boa parte, o que fez com que os EUA perdessem a guerra do Vietnã. Não estou, aqui, repetindo a Dolchstosslegende pela qual os liberais teriam traído o exército americano; pelo contrário, inclusive a moral das próprias tropas americanas foi afetada pelo conhecimento melhor do que estava acontecendo. Tem gente para quem a barbárie é natural e apropriada.

Mas esse não é o caso da maior parte da população, numa sociedade pós-industrial, pós-disciplinar. O Globo não deixou de publicar as fotos porque isso seria apoiar a "guerra," afinal ele apóia a "guerra." Deixou de publicar porque elas, ao mostrar o que significa a retórica belicosa que se disseminou pela sociedade, chocariam. Acho que é disso que o Brasil precisa, no momento, e que nossa imprensa oligárquica definitivamente não vai mostrar. De ser chocado. De encarar frente a frente nossas My Lai.

29.11.07

Capitão Nascimento no Ibama

Tá, desculpas pelo título, que não tem nada a ver nem com tortura nem com o Brasil. Mas é que uma das maiores preocupações de muitos agentes ambientais mundo afora é matar bichos. São as espécies invasoras, animais que, introduzidos em ecossistemas aos quais eles estão muito melhor adaptados do que os nativos, matam direta ou indiretamente estes. Vão desde os simpáticos e psicopatas micos-estrela de Pernambuco, que estão acabando com a avifauna do Sudeste, até os porcos que ameaçam os ecossistemas das ilhas do Pacífico Sul.

E, claro, os mais hardcore de todos, os ratos. Em tudo que é canto, acabando com todo mundo. Mas agora os humanos resolveram empreender um bombardeio aéreo contra eles. (A localização, que é deserta mesmo de outros bichos, ajuda.)

24.11.07

Condor do povo

As polícias da América Latina se reuniram na Colômbia para "coordenar seus esforços contra o narcotráfico e o crime organizado. Considerando-se o prontuário dessas polícias, que mantiveram, após as ditaduras, a repressão às áreas populares e a tortura como práticas correntes de sua "guerra," (como explicado por um deles no último ataque à noção de direitos humanos), acho que não chega a ser muuuuuita hipérbole chamar isso de Operação Condor II - A Revanche Final Está de Volta. O bizarro é que ela possa acontecer em meio a uma situação de governos democráticos em quase todo o continente, muitos deles nas mãos de partidos de esquerda, que têm histórico de oposição à tortura e dos quais muitos integrantes sofreram na carne a violência policial. Lembra, de certa forma, o distante aviso do general-presidente Eisenhower sobre a formação de uma autoridade paralela nas mãos do complexo industrial-militar. E torna a "democracia" latino-americana algo bastante relativo e contingencial. Eu vivo numa democracia, mais ou menos; um habitante do Capão Redondo ou da Maré não vive em nada que se assemelhe a uma, mas numa ditadura mais ou menos racial-fascista.

23.11.07

A voz rouca das ruas

O PSDB, em seu Congresso anual (como relatado pelo Valor), diz que vai "convocar as ruas contra o 3º mandato."

Não sei o que é mais engraçado, se a idéia de manifestações contra algo que ninguém diz que quer, ou se a idéia do PSDB (que tem alergia a povo) "convocando as ruas." Passeata dos cansados de novo?

Aliás, a cobertura do encontro pelo Valor - que entre outras coisas compara as teses apresentadas neste congresso com as de 1989 - junto com o editorial ironizando os arroubos democráticos do DEMo, prova mais uma vez que os dois jornais de porte mais "à esquerda" do Brasil são ele e o Jornal do Commercio. Bizarro.

20.11.07

Podia ser pior

A situação no Peru e Colômbia, pelo visto, tá tão ruim que o Brasil começou a virar abrigo de refugiados, apesar das regras draconianas e racistas de imigração, impostas ainda sob o Getúlio.

Sempre é bom lembrar, lendo uma notícia dessas, que a floresta hiper-úmida do alto Amazonas, a maior parte da qual fica na Colômbia e no Peru, é bem mais densa e diversa, tanto em termos humanos quanto de ecossistemas, do que o resto da Amazônia.

19.11.07

Imoral e imbecil

Muita gente tem denunciado o entusiasmo pela polícia que mata, à Tropa de Elite, como imoral, e têm toda a razão. Mas, como no caso das mega-hidrelétricas que querem fazer por aí, confesso que gostaria de ver mais oposição absolutamente amoral, baseada na absoluta ineficiência - ou, no caso, inutilidade - da estratégia em questão.

Uma polícia que tenha como missão "invadir favela e deixar corpo no chão," como reza a música do BOPE, não é polícia. A missão de uma polícia é manter os estatutos legais. Até aí, apesar de tegiversar, até os apoiadores do BOPE concordam. Estamos numa "guerra," afinal, segundo eles. A questão é que ter como missão atingir o maior número e status de mortos possíveis não é sequer uma estratégia de guerra inteligente. É pensamento de sargento, não de general. A noção da guerra de atrito não se aplica a conflitos de baixa intensidade; por maior que seja a mortandade praticada pelo BOPE, sem o uso de bombardeio indiscriminado ela nunca vai se equivaler ao crescimento populacional das favelas (e, pela dinâmica do tráfico, esse crescimento é o único limite para a substituição de "soldados").

Claro que a compreensão do que é praticado como uma guerra de atrito retorna, também, à questão moral. Afinal, se o Brasil está empreendendo uma guerra de atrito contra as favelas...

9.11.07

Globalização democrática

Uma pesquisa de opinião do Pew mostra que a maioria das pessoas aprova a atual situação mundial, em que o capital está livre para se deslocar pelo mundo, os bens, quase livres, e as pessoas nem um pouco. Bom para os governos e as empresas multinacionais, ruim pra todo mundo. E pensar que até o começo do século XX, nem de passaporte se precisava pra viajar.

8.10.07

Ação Afirmativa Hindu II

Recentemente, o Partido do Congresso ameaçou as companhias indianas - comecem a empregar pessoas de baixa casta por bem, ou vamos fazer uma lei obrigando vocês a fazer isso.

O programa, como descrito na Economist, apresenta bem tanto as virtudes como os defeitos da ação afirmativa em geral. Ao contrário do alegado pelos Alis Kaméis da vida, os beneficiados pela AA não sofrem a mais com o preconceito, e têm desempenho até superior ao dos outros. Por outro lado, a AA não beneficia os mais excluídos, mas uma parcela de classe média entre os representantes dos grupos (etnia/casta/raça/gênero) discriminados. Na Índia, essa parcela é ínfima, e a AA, afetando o setor formal (pequenas empresas pra cima), só afeta uns 2% da população empregada.

E - mas aí só é um problema para quem tem uma posição política específica - a AA estimula a atuação política baseada nesses grupos de pertença, ofuscando de certa maneira a importância das disparidades de classe.

5.10.07

Reis filósofos

O Supremo Tribunal Federal brasileiro legislou, hoje, que os mandatos pertencem, não aos eleitos, mas aos partidos, numa forma ainda mais extrema do que o voto em lista fechada mais extremo (esse seria o praticado nos países do Benelux), e que os deputados que trocaram de partido devem perder o mandato.

Ora, não sou de modo algum favorável ao troca-troca partidário. Isso apesar de duas ressalvas: que, como o Renan Calheiros, ele só é condenado quando está do lado errado; e que os políticos que o praticam, na imensa maioria, são políticos apolíticos, pra quem a sigla do partido é francamente irrelevante de qualquer jeito. E na maioria ele ocorre entre partidos que são praticamente iguais mesmo. (Fora um estar na oposição e o outro no governo, alguém sabe a diferença entre o DEMo e o PR ou o PP?) Acho que os ilustres deputados afetados pela medida são todos uns bandidos mesmo, salvo exceção.

Mas isso não justifica que o Supremo tome pra si o atributo de criar as regras, como cada vez mais o fazem, seguindo o exemplo, os juízes brasileiros em geral. Que o Judiciário na prática, através da jurisprudência, tem algum papel legiferante, é normal no mundo inteiro. Que ele se imponha, nessa criação do arcabouço legal, ao legítimo poder Legislativo, com a desculpa da "opinião pública" dada pelo Marco Aurélio de Mello, é surrealista. Temos um poder absolutamente superior aos outros, que toma decisões legislativas, regulatórias e administrativas, que foi eleito indiretamente. Se os ministros querem ser políticos e ouvir a opinião pública, deviam tentar se eleger.

Diga-se de passagem, esse "clamor público" alegado, neste caso como no precedente invocado pelo Marco Aurélio de Mello, não reflete o "público" no sentido imaginado da voz das ruas, do povão, mas uma parcela pequena da população. Acho que "o clamor dos grandes grupos de mídia e da classe média alta" teria menos impacto. "Clamor dos cansados," talvez?

25.9.07

Palavras criminosas

O código penal brasileiro conserva uma excrescência chamada "apologia ao crime ou criminoso." O "crime" em questão, que acarreta prisão de 3 a 6 meses ou multa, é um absurdo, indigno de qualquer país que se considere civilizado. Faz com que o Brasil esteja muito pior do que os EUA de Bush no quesito liberdade de expressão, mesmo descontados os assassinatos políticos de repórteres. Recentemente, esse infame artigo 287 foi utilizado inclusive pra prender quem protestava contra a violência policial usando imagens do Cauã, símbolo dos Jogos Panamericanos, portando um fuzil de assalto.

Ora, o mesmo código penal tipifica, em seu artigo 243, a tortura como crime. Ou seja, a apologia da tortura é crime. Não seria de se perguntar, então, se toda a "bancada da bala" do congresso nacional, mais os produtores do "filme mais quente do ano," e o pessoal da série 24H se visitar de novo o Brasil, não precisariam passar de três a seis meses na cadeia? Aliás, tortura é crime, só pra avisar, com punição mais pesada do que a do consumo (porte) de drogas, ou seja, pela lógica a sua apologia também deveria ser considerada mais grave.

A propósito: os governos nacional e estadual prevêem a "pacificação" do Morro da Providência. PQP, "pacificação"? Não tinha palavra menos nazi pra usar não? Tipo, eu sei que é uma ação colonial, que vai morrer gente (desculpas, gente não, preto e pobre) a rodo, mas...precisava ser tão explícito?

18.9.07

Nottingham PD

Uma das coisas que sempre achei divertidas em relação à tal estabilidade jurídica, quando usada como eufemismo para o sacrossanto direito à propriedade privada, é que esse direito é, via de regra, considerado importante só quando se trata da defesa do caráter privado e não público da sociedade, ou da propriedade de quem tem muito. Os mesmos empresários e "formadores de opinião" que consideram a estatização de uma empresa um crime lá do lado do uxoricídio e da alta traição, acham que a desapropriação de moradias, especialmente a remoção de favelas, para melhor servir aos seus planos, é não apenas virtuosa, mas absolutamente essencial ao "progresso" do país.

Tá, o artigo do Benjamin Steinbruch (que ganhou de presente a CSN e a Vale) no Estadão de Hoje, reclamando das favelas que atrapalham as linhas férreas dele, não fala exatamente disso, já que as ditas favelas invadiram área que era do governo, antes de ser dada a ele Steinbruch. Mas em geral, nunca vi nenhum "liberal" falando contra grandes obras de infraestrutura, do tipo que fatalmente envolve grandes áreas desapropriadas, nem contra esquemas de "revitalização" que incluem a desapropriação de áreas para entregar a investidores privados.

Outro exemplo de novilíngua divertido é essa de plantações de eucalipto serem "reflorestamento." Arrã.



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Marco Aurélio de Mello afirmou que deixaria Cacciola fugir. De novo. Acho que ninguém mais tem uma visão tão clara, tão límpida sobre como a Justiça brasileira é só pra pobre quanto o ilustríssimo ministro.

13.9.07

Democracia de marfim

Na primeira edição brasileira do Le Monde Diplô, um texto do Chistopher Newfield explica como a direita americana deliberadamente atacou o sistema universitário que, naquele país, foi o principal ator da democratização e "esquerdização" do pós-guerra.

Impossível não lembrar do artigo em questão (e do livro ligado acima) ao ler esse outro artigo, sobre como o MIT está tentando (ainda que de maneira tímida) reverter a regra pela qual 90% da pesquisa beneficia 10% da humanidade.



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Shana tová de novo! E como também é o ano novo (aliás, o ano 2000) copta, um artigo sobre a inflação na Etiópia pra todas as (3?) pessoas que lêem este blógue.

12.9.07

Regra 34 avant la lettre


Assusta até o Hitler!

A regra 34 da Internet reza que existe uma versão pornô disso na Internet, pra qualquer valor de "isso." Aliás, se você inventar alguma coisa agora mesmo, existe uma versão pornô dela, com pelo menos 3 sites. Digamos, hentai hermafrodita dos ursinhos carinhosos ciborgues.

Bem, pelosvisto a regra 34 é anterior à internet e mais radical ainda do que se pensava. Digamos, "pornô israelense dos anos 60 ambientado em campos de prisioneiros nazistas."

It was one of Israel 's dirty little secrets. In the early 1960s, as Israelis were being exposed for the first time to the shocking testimonies of Holocaust survivors at the trial of Adolf Eichmann, a series of pornographic pocket books called Stalags, based on Nazi themes, became best sellers throughout the land.


Read under the table by a generation of pubescent Israelis, often the children of survivors, the Stalags were named for the World War II prisoner-of-war camps in which they were set. The books told perverse tales of captured American or British pilots being abused by sadistic female SS officers outfitted with whips and boots. The plot usually ended with the male protagonists taking revenge, by raping and killing their tormentors.

After decades in dusty back rooms and closets, the Stalags, a peculiar Hebrew concoction of Nazism, sex and violence, are re-emerging in the public eye. And with them comes a rekindled debate on the cultural representation here of Nazism and the Holocaust, and whether they have been unduly mixed in with a kind of sexual perversion and voyeurism that has permeated even the school curriculum.

"I realized that the first Holocaust pictures I saw, as one who grew up here, were of naked women," said Ari Libsker, whose documentary film "Stalags: Holocaust and Pornography in Israel" had its premiere at the Jerusalem Film Festival in July and is to be broadcast in October and shown in movie theaters. "We were in elementary school," he noted. "I remember how embarrassed we were."

Hanna Yablonka, a professor of history at Ben-Gurion University of the Negev, says the film highlights what she calls the "yellow aspects of nurturing the memory of the Holocaust."

"Are we taking it into the realm of semipornography?" she asked. "The answer is, we are."

The Stalags were practically the only pornography available in the Israeli society of the early 1960s, which was almost puritanical. They faded out almost as suddenly as they had appeared. Two years after the first edition was snatched up from kiosks around the central bus station in Tel Aviv, an Israeli court found the publishers guilty of disseminating pornography. The most famous Stalag, "I Was Colonel Schultz's Private Bitch," was deemed to have crossed all the lines of acceptability, prompting the police to try to hunt every copy down.

The Stalags went out of print and underground, circulating in specialty secondhand bookstores and among furtive groups of collectors.

Mr. Libsker's 60-minute documentary puts the Stalags under a spotlight for the first time and exposes some uncomfortable truths. One is that the Stalags were a distinctly Israeli genre, created by Israeli publishers and penned by Israeli authors, although they had masqueraded as translations from English and were written in the first person as if they were genuine memoirs.

Until the Eichmann trial began in 1961, the voices of the Holocaust had hardly been heard in Israel. The survivors sensed the ambivalence of the old-timers who blamed them for not having emigrated in time, and questioned what immoral deeds they might have done in order to stay alive.

In the movie, the publisher of the first Stalag, Ezra Narkis, acknowledges that it was the trial, in all its sensational and often gory detail, that gave momentum to the genre.

More provocatively, the movie contends that Stalag pornography was but a popular extension of the writings of K. Tzetnik, the first author to tell the story of Auschwitz in Hebrew and a hero of the mainstream Holocaust literary canon. K. Tzetnik "opened the door," and "the Stalag writers learned a lot from him," Mr. Narkis said.

K. Tzetnik was a pseudonym for Yehiel Feiner De-Nur. The alias, short for the German for concentration camper, was meant to represent all survivors, a kind of Holocaust everyman. One of K. Tzetnik's biggest literary successes, "Doll's House," published in 1953, told the story of a character purporting to be the author's sister, serving the SS as a sex slave in Block 24, the notorious Pleasure Block in Auschwitz.

Though a Holocaust classic, many scholars now describe it as pornographic and likely made up.

"It was fiction," said Na'ama Shik, a researcher at Yad Vashem, The Holocaust Martyrs' and Heroes' Remembrance Authority. "There were no Jewish whores in Auschwitz."

Yet "Doll's House" and other writings of K. Tzetnik, who died in 2001, are treated as historical fact by many in Israel, and are included in the high school curriculum. Mr. Libsker's movie shows the vice principal of an Israeli school guiding a group of teenagers through Auschwitz, pointing out Block 24 and quoting from K. Tzetnik.

This approach to Holocaust education is being eschewed by an increasing number of Israeli academics. "The Holocaust was bad enough, without making things up," Dr. Yablonka said.

Sidra Ezrahi, a professor of comparative Jewish literature at the Hebrew University of Jerusalem, said, "His books were so graphic and so barbaric." Maybe at first they had an important impact, she said. "But over time," she added, "if this is what they have chosen to leave in the Israeli curriculum, it's a scandal."

For many Israelis, the most dramatic part of the Eichmann trial was the testimony of K. Tzetnik. His true identity was revealed for the first time on the witness stand, where he passed out. Simultaneously, the Stalags were reaching the peak of their commercial success.

Yechiel Szeintuch, a professor of Yiddish literature at the Hebrew University, rejects any link between the smutty Stalags and the writings of K. Tzetnik as "an original sin." He insists K. Tzetnik's work was based on reality.

But Mr. Libsker, 35, himself the grandson of Holocaust survivors, contends that it is the same mixture of "horror, sadism and pornography" that serves to perpetuate the memory of the Holocaust in the Israeli consciousness to this day.

Correction: September 7, 2007

The Jerusalem Journal article yesterday, about the pornographic pocket books with Nazi themes that were circulated in Israel in the 1960s, misquoted Na'ama Shik, a researcher at Yad Vashem, The Holocaust Martyrs' and Heroes' Remembrance Authority, regarding the pocket book "Doll's House," about a Jewish woman serving in a notorious brothel called Block 24 in Auschwitz. She said the book — not Block 24 — was fictional.





PS - Feliz ano novo!

4.9.07

Perfect storm

Quando os budas de Bamiã foram detonados pela Talibã, eu, e creio que muitos outros, tive uma ligeira crise de consciência. Não pela destruição das estátuas, ou por não ter feito nada para salvá-las (como se algo pudesse ser feito), mas porque, naquele momento, a Talibã já tinha provavelmente chegado nos cinco dígitos de gente morta, muitas vezes de maneiras horríveis. E eu lamentando por um monte de pedras.

Não conheço (vou até perguntar) o estado do debate ético sobre essa questão, de se bens culturais únicos (os budas, as bibliotecas de Alexandria, o grito do Munch, o palácio de verão) valem mais do que seres humanos. Se me perguntarem no abstrato, é claro que vou dizer que não; no concreto não sei. (Bem, vai depender do ser humano - é claro que "indivíduo # 3.567.925.008" não vale o mesmo que "pessoa que amo.")

Nem sei se estamos falando propriamente de bens culturais. O lamento pela extinção, digamos, do boto do Jangzi, não é uma manifestação da mesma atitude? Será que não é em última análise simplesmente o mesmo processo que faz diamantes valerem mais do que água? Afinal, tanta gente morre todo dia...

Por isso que a morte de Nova Orléans, a única cidade com um carnaval decente na América do Norte, que é única de tantos jeitos diferentes, é legal. Porque você pode sentir raiva, indignação ou tristeza ao mesmo tempo pelas pessoas e pela perda cultural.

29.8.07

Balzaquiano

...mas não me sinto mais tão velho assim - acharam organismos ainda vivos com mais de meio milhão de anos de idade.

Por outro lado, aposto que elas estão bem mais conservadas.



A research team has for the first time ever discovered DNA from living bacteria that are more than half a million years old. Never before has traces of still living organisms that old been found. The exceptional discovery can lead to a better understanding of the ageing of cells and might even cast light on the question of life on Mars. The discovery is being published in the current issue of PNAS (Proceedings of The National Academy of Sciences of The United States of America). The discovery was made by Professor Eske Willerslev from the University of Copenhagen and his international rearch team.

All cells decompose with time. But some cells are better than others to postpone the decomposing and thus delay ageing and eventually death. And there are even organisms that are capable of regenerate and thereby repair damaged cells. These cells – their DNA – are very interesting to the understanding of the process of how cells break down and age.

The research team, which consists of experts in, among other things, DNA-traces in sediments and organisms, have found ancient bacteria that still contains active and living DNA. So far, it is the oldest finding of organisms containing active DNA and thus life on this earth. The discovery was made after excavations of layers of permafrost in the nort-western Canada, the north-eastern Sibiria and Antarctica.

28.8.07

Caindo do pódio



Um dos motivos de orgulho nacional, o coeficiente de Gini brasileiro tem estado entre os mais altos do mundo desde que se começou a medir essas coisas. Durante alguns anos, chegou a ser O mais alto do mundo. Esse coeficiente, que mede a desigualdade econômica numa sociedade, como qualquer estatística social ou econômica, é mais complicado e menos representativo do que parece, o que já diminuiria o brilho da desigualdade brasileira: isso porque pode ser aplicado a medidas diferentes (na Ásia, geralmente ao consumo, na América Latina e entre os países ricos, à renda - a medida pelo consumo gera um número até 25% menor), e depende de qualquer jeito em se ter estatísticas confiáveis de renda, consumo, riqueza mobiliária ou o que seja, o que nem nas economias mais mensuradas é tão simples assim. Estima-se que nos EUA a contribuição da economia cinza e negra passe de 10% do PIB, enquanto na América Latina o dado é muito maior, na África maior ainda, e nos chamados "estados fracassados" como o Congo, Colômbia ou Afeganistão, a economia alternativa é aquela controlada pelo governo.

Bem, isso tudo dito, a questão é a seguinte: com a redução contínua ao longo da década, e acelerada (e pela primeira vez combinada com crescimento econômico) nos últimos anos, os pobres brasileiros, com crescimento na renda de 10% ao ano nos últimos quatro, mostraram que o pessoal do Cansei tem razão e o problema desse país é seu povo, e tiraram do Brasil o troféu. A China é hoje mais desigual que nós, e os outros dois BRIC podem passar o Brasil na próxima década.

Mais uma vez o Brasil se curva diante do mundo.

Quem tá tentando manter a honrosa tradição brasileira, no entanto, é o Mato Grosso, e a fronteira agrícola (aka Arco do Desmatamento) em geral, onde a concentração fundiária tem crescido. Segundo o Valor,

Nos últimos três anos, os mega-produtores do Estado avançaram sobre 1,3 milhão de hectares de terras produtivas, segundo analistas do mercado financeiro e de agentes locais ouvidos pelo Valor. Nas próximas safras, outros 1 milhão de hectares em mãos de médios produtores podem mudar de donos.

A elevação nos custos de captação do dinheiro, o atraso na entrega de insumos e a redução do volume de crédito levaram cerca de 500 grandes e médios produtores de Mato Grosso a sair da atividade. O agravamento das dificuldades na gestão das propriedades transferiu pelo menos 600 mil hectares a outros produtores. Em Primavera do Leste, no sul do Estado, apenas seis produtores detêm metade dos 320 mil hectares de lavouras. "Em dez anos, Mato Grosso vai estar nas mãos de 15 ou 20 mega-produtores", prevê o produtor José Nardes, presidente do sindicato rural do município, que arrendou 6 mil de seus 7,5 mil hectares a outros colegas.



Uma das razões pra isso ser tão fácil: o ITR brasileiro é relativamente baixo, e não é progressivo.

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Falando nisso, a proposta brasileira pra copa do mundo inclui hotéis flutuantes em Santos. Sinceramente, é idéia de quem nunca viu aquele porto. As empresas que lá operam choram e rangem os dentes quando um navio, especialmente um transatlântico, que tem prioridade, fica mais do que algumas horas ocupando um berço (isso é, uma vaga) no cais, com direito a brigas na Justiça pra atracar ou desatracar navios. Imagina o que iam dizer à idéia de que o berço na frente deles ia ficar um mês com um navio alheio estacionado?

23.8.07

Energia alternativa

Dois estudantes do MIT inventaram um processo pelo qual energia é extraída do recurso mais abundante e acessível para a humanidade: ela mesma. O princípio é simples: os azulejos do chão numa sala são levemente deprimidos quando pressionados, acionando pequenos dínamos. Uma passada humana normal rende mais ou menos 0,9W/Kg, o que quer dizer que eu, por exemplo, poderia fazer uma luz de 90W piscar a cada passada. Não parece muito, mas se você usa uma multidão de 4000 pessoas, a uma média de 70Kg, se movendo por um corredor do metrô, já tem uns 28Kw de energia contínua - o bastante pra iluminar a estação.

O uso disso como fonte de energia genérica, no entanto, é problemático. Primeiro porque não é lá a energia mais confiável do mundo. Segundo porque os custos de instalação e manutenção ainda são (e continuarão, ausente alguma revolução científica tipo femtotecnologia) meio muito altos. Terceiro porque, mais ainda do que fontes de energia já consideradas "sujas," como a das freagens do dito metrô*, ou de usinas eólicas, seria bem difícil fazer com que essa energia se tornasse algo constante, em ciclo e voltagem, que pudesse ser aproveitado por diferentes equipamentos.

Agora, os usos diretos são incrivelmente fodas. Imaginem, por exemplo, instalar luzes (com LEDs, elas podem ser bem fortes) ao longo de caminhos e picadas por parques remotos? Ou câmeras de observação animal que poderiam ser basicamente eternas? Ou - pensem bem - um palco de show que amplificasse o som quanto mais o povo se mexesse? Luzes de guia ativadas pelas passadas em tudo quanto é corredor? Telas de informação defronte a esculturas ao ar livre? Esculturas cinéticas movidas pela energia elétrica dos passantes?

Finalmente uma cyberpunquice do mundo que não é deprimente, mas maneira.

*Metrôs e trens de subúrbio, hoje em dia, cada vez mais adotam o que se chama de "freagen regenerativa," isto é, ao invés de um freio de atrito direto, o que freia o trem é o próprio motor, só que no modo reverso, funcionando como gerador.


45W

21.8.07

Ainda os aviõezinhos

Hoje, quando chegava ao trabalho, o porteiro do prédio assistia ao noticiário matutino. Nele, um avião que deu uma freada, assustando os passageiros foi tratado como notícia e exemplo da "crise aérea."

Alguns dados que podem parecer estranhos pra quem tem seguido a mídia brasileira nos últimos 12 meses:


1 - Os aeroportos mais lotados do Brasil, Congonhas e Guarulhos, têm por volta de nove e oito milhões de passageiros por pista por ano. Tóquio e Los Angeles têm mais ou menos 30 milhões, e londres mais de quarenta. A média de grandes aeroportos internacionais é de uns dezesseis.

2 - A espera mediana em aeroportos brasileiros de grande porte ainda é inferior a meia hora. Nos EUA, ela já passa de duas horas, e na EU está em por volta de uma hora.

3 - A idade média da infraestrutura aérea brasileira é menor do que a da OCDE.

4 - No Brasil, como no resto do mundo, o aumento enorme do número de atrasos e confusões em aeroportos está diretamente relacionado a um dado simples: o aumento enorme do número de passageiros nos últimos sete anos, graças às companhias de baixo custo. Bem, nem tão baixo custo assim por aqui, agora que virou duopólio.

5 - O maior problema facilmente evitável da aviação nacional no momento, e que deveria ser punido pela ANAC, é simples: avião virou lotada. Cansei de ouvir estórias (comigo aconteceu uma vez) de gente cuja companhia aérea, principalmente a TAM, cancelou vôos até que se enchesse um avião. Vide duopólio, acima.

6 - Nesta década, dos grandes aeroportos brasileiros, só o Galeão (que ainda está subutilizado) não passou ou está programado para passar em breve por um grande programa de obras. O Santos Dumont foi duplicado, o sistema de trânsito de Congonhas foi refeito e o terminal de embarque ampliado, Brasília está sendo duplicado, Guarulhos está programado pra entrar na roda...

15.8.07

Solidariedade bolivariana

Uma das coisas que sempre achei curiosas no Chávez é a idéia de que ele seja um bufão ou alguém que tome riscos ideológicos. Pelo contrário, minha impressão sempre foi de que ele resolveu se auto-apelidar de socialista porque as Vejas e Estadões da Venezuela começaram antes, e ele descobriu que, longe de o xingamento ser ruim pra imagem dele, dava era ibope. E o "gasto de dinheiro diplomático" de que acusam ele só é mirabolante na promessa; na realidade prática, é relativamente modesto e sempre dá lucro, além de gerar nos outros dependência em relação à Venezuela - e, como a alternativa dentro da Venezuela é um povo que não só é de direita como tem praticamente ojeriza a tudo que ele faz, até à cor da roupa, interesse direto na manutenção dele, Chávez, no poder.

Um exemplo ótimo disso é a relação desenvolvida por ele e pelo Kirchner entre a Venezuela e a Argentina. Graças a ela, a Argentina paga 20% a mais do que o preço internacional do petróleo, comprando da PdVSA, e 120% a mais de juros do que pagaria ao FMI. Tá, pagando ao FMI teria uma contrapartida de adotar x, y e z políticas econômicas, mas mesmo o custo dessas, ainda mais agora que o FMI tá desesperado procurando alguém pra quem emprestar dinheiro, não seria maior do que a soma dos 6% a.a. de juros a mais com os 20% a mais no preço do petróleo.

Pergunta - se um acordo desses fosse assinado com o Tio Sam, seria considerado por alguém (Reinaldo Azevedo, Olavo de Carvalho e cia não contam, tô falando de gente) uma coisa razoável?

Por outro lado, o socialismo do Chávez, ou pelo menos da sua "revolução bolivariana," é suspeito quando você contrasta ele com o "pelego" governo do seu compadre brasileiro. Nos dois os bancos tiveram lucros recordes, mas no Brasil não foram só os bancos, mas a maioria das companhias, de todos os portes, na Venezuela a pouca base industrial e agrícola que existia tá indo pras cucuias. Nos dois foram implantados programas sociais, mas no Brasil diminuiu a desigualdade de renda e na Venezuela aumentou. Nos dois há violações de direitos humanos pelas forças policiais, mas...não, pera, nesse quesito os dois tão iguais, as coisas só têm piorado ainda mais. Também tão iguais na oposição a acordos humanitários na ONU - o Brasil à erradicação das submunições, a Venezuela à responsabilização dos governos pela vida de seus súditos.

14.8.07

O Outro Pulmão



Não, não é o último brinquedo do Bush nem do Bin Laden. Bomba biológica é o processo pelo qual os organismos (no caso, marinhos), injetam carbono atmosférico nos oceanos profundos, ao lado da bomba de solubilidade, como pode ser visto no gráfico acima. A terceira coluna é pra mostrar a verdadeira escala relativa das zonas oceânicas, já que nessas o abismo é a imensa maioria, enquanto o mundo de luz que conhecemos é só uma casquinha fininha.

E o problema? Como assim tudo que eu falo tem um lado ruim? Só sou que nem a mãe da Susanita. Tá, o problema é que a espécie mais importante nessa bomba biológica não é alguma alga ou outro tipo de vegetal ou bactéria autotrófica, mas o krill, aquele camarão que é o prato favorito das baleias. Isso porque ele é meio afogueado quando come, então boa parte da comida dele sai pelo outro lado quase inteira, mas grossa o bastante (menos de um milímetro, como o próprio bicho) para afundar até o fundo do mar. Isso quer dizer que ele é uma bomba de carbono de um só sentido.

E essa bomba de carbono de um só sentido, como seus primos maiores, precisa de cálcio pra ficar forte e poder crescer. E, bem, quando a outra bomba de carbono, a de solubilidade, atua, ela absorve carbono e diminui a quantidade de cálcio livre na água do mar, que vai ficando menos alcalina. O resultado disso é que o maior ralo de carbono de todos pode estar ameaçado pelo próprio carbono que ele sorve. E se isso acontecer, não só as baleias vão ficar anoréxicas, como o aumento da concentração de carbono na atmosfera vai acelerar rapidamente.


Krill batendo um PF

13.8.07

Dia da hipocrisia energética

Maurício Tolmasquin, presidente da Empresa de Pesquisa Energética (um desses lobbies empresariais que, no Brasil, são pagos com dinheiro público), fala que o Brasil precisa de energia limpa. Tradução, precisa gastar 40bn para garantir os 4GW de potência efetiva das usinas do Madeira, e o Ibama está atrapalhando só porque as usinas vão matar um milhão de Km2 de ecossistemas.

Noves fora o grau de absurdo que a coisa tá tomando (dez mil por quilovate é preço de usina solar fotovoltaica*), é interessante ele dizer isso porque até agora ele tem sido - e continua sendo - dos maiores defensores das termelétricas a combustíveis fósseis, gás e carvão.

Enquanto isso, o Chávez denuncia os EUA como "Conde Drácula" com um "apetite voraz e insaciável por energia." Considerando-se que o que a Venezuela faz da vida é basicamente vender petróleo aos EUA, desde os anos 40, se estes são o Conde Drácula aquela é o Ígor.

Aliás, Ígor tem lutado ferrenhamente contra qualquer alternativa energética ao petróleo, e especificamente contra idéias malucas como a de se explorar o gás boliviano ao invés do deles. Já prometeu ao Uruguai e à Argentina gás que ainda nem foi explorado, inclusive, como "segurança energética."


*A atual, não a que está sendo desenvolvida em Israel, e promete basicamente acabar com nossos problemas energéticos.

9.8.07

Troféu Philip K Dick

Batendo todos os recordes anteriores de bigbroderização da sociedade mais uma vez, o Departamento de Segurança Pátria americano agora pretende investigar quem "pretende" cometer crimes.

Sério.


IMAGINE the scene. You arrive at New York's JFK airport, tired after a long flight, and trudge into line at passport control. As you wait, a battery of lasers, cameras, eye trackers and microphones begin secretly compiling a dossier of information about your body.

The computer that is processing the data from these hidden sensors is not searching for explosives, knives, guns or contraband. Instead, it is working on a much tougher problem: whether you are thinking about committing a terrorist act, either imminently, or at sometime during your stay in the US. If the computer decides that might be your intention, you will be led off for interview with security officers.

The equipment could also screen passengers as they wait to have their bags checked before boarding, in an attempt to predict when someone is planning to bomb or hijack a plane.

It sounds far-fetched, but this is the aim of Project Hostile Intent (PHI), the latest anti-terrorism idea from the US Department of Homeland Security. According to DHS spokesman Larry Orluskie, the DHS wants to develop systems that can analyse behaviour remotely to predict which of the 400 million people who enter the US every year have 'current or future hostile intentions'.

PHI aims to identify facial expressions, gait, blood pressure, pulse and perspiration rates that are characteristic of hostility or the desire to deceive. Then the idea is to develop "real-time, culturally independent, non-invasive sensors" and software that can detect those behaviours, says Orluskie. The DHS's Advanced Research Projects Agency (HSARPA) suggests that these sensors could include heart rate and breathing sensors, infrared light, laser, video, audio and eye tracking.

PHI got quietly under way on 9 July, when HSARPA issued a "request for information" in which it asked security companies and US government labs to suggest technologies that could be used to achieve the project's aims. It hopes to test them at a handful of airports, borders and ports as early as 2010 and to deploy the system at all points of entry to the US by 2012.


Tá, você tá falando de um povo que, nos últimos cinquenta anos, inventou o foguete nuclear (não precisa nem de bomba na ponta, a radiação vai matar tudo em volta de onde ele cair. E no caminho), o gás gay (porque, obviamente, nunca ouviram falar no batalhão sagrado de Tebas), o projeto Hudson ("vamos criar um lago de um milhão de quilômetros quadrados na Amazônia porque...um...bem...) e outras "genialidades." Mesmo assim, o Minority Report de segunda bate todos, porque junta insanidade e distopia.

7.8.07

Infraestrutura pra quem

O colapso da ponte gerou uma discussão sobre infraestrutura nos EUA que, com sua mistura de histeria e interesses escusos ou nem tanto, lembra os gritos recorrentes de "apagão" daqui do Brasil. A diferença mais interessante é o que eles incluem na lista de infraestrutura essencial.

Escolas e parques nacionais.

3.8.07

William Gibson, profeta VIII

A reportagem do Globo fala do que já se sabe, mas mesmo assim assusta. Tá barato o presunto, heim?


...a comunidade é muito pobre para pagar uma milícia. Os seguranças...podem ser policiais civis, militares, bombeiros ou agentes penitenciários, que trabalhariam em troca de pequenos agrados do comércio da área, como "uns trocados, um refresco."

Na outra ponta da escala de poder privado, a Rússia liberou exércitos corporativos.


The Russian Duma just passed a bill that would allow the energy monopolies, Gazprom and Transneft, to build their own security forces (with greater powers than that normally afforded security firms). This is particularly interesting given that 1) Russia now uses its energy exports/pipelines as its primary tool of strategic power projection, 2) the government has become a corporatist klepocracy centered around the energy industry.

2.8.07

So long, and thanks for all the fish

At the Institute for Marine Mammal Studies in Mississippi, Kelly the dolphin has built up quite a reputation. All the dolphins at the institute are trained to hold onto any litter that falls into their pools until they see a trainer, when they can trade the litter for fish. In this way, the dolphins help to keep their pools clean.

Kelly has taken this task one step further. When people drop paper into the water she hides it under a rock at the bottom of the pool. The next time a trainer passes, she goes down to the rock and tears off a piece of paper to give to the trainer. After a fish reward, she goes back down, tears off another piece of paper, gets another fish, and so on. This behaviour is interesting because it shows that Kelly has a sense of the future and delays gratification. She has realised that a big piece of paper gets the same reward as a small piece and so delivers only small pieces to keep the extra food coming. She has, in effect, trained the humans.

Her cunning has not stopped there. One day, when a gull flew into her pool, she grabbed it, waited for the trainers and then gave it to them. It was a large bird and so the trainers gave her lots of fish. This seemed to give Kelly a new idea. The next time she was fed, instead of eating the last fish, she took it to the bottom of the pool and hid it under the rock where she had been hiding the paper. When no trainers were present, she brought the fish to the surface and used it to lure the gulls, which she would catch to get even more fish. After mastering this lucrative strategy, she taught her calf, who taught other calves, and so gull-baiting has become a hot game among the dolphins.
Melhor dar todos os peixes pra eles enquanto ainda os temos...

30.7.07

Parece um consenso a opinião de que Congonhas se tornou um problema devido à falta de planejamento. Noves fora que acho esse tipo de opinião uma baita duma superestimação dos limites do poder tecnocrático, o que me incomoda é que as mesmas pessoas que comentam isso só falam em saídas emergenciais pra crise, e não da necessidade de planejamento agora para o médio e longo prazo. Por exemplo: os aeroportos citados no post abaixo, ainda que fiquem de fora da solução de emergência para a explosão no transporte aéreo brasileiro, fatalmente se tornarão aeroportos servindo a cidade de São Paulo no médio prazo, já que Guarulhos é um local ruim e sem possibilidade de muita expansão. Por acaso a Infraero tá adquirindo terras no entorno deles, pra construir mais pistas e terminais? E em volta da Base aérea de Santa Cruz, no Rio (tá, o Galeão ainda tem espaço pra mais uma pista e três terminais, mas eventualmente lota)? Do aeroporto de Brasília? Tem algum programa pra dotar de instrumentação de pouso melhor Congonhas e o Santos Dumont (pra não falar do resto - no momento, só o Galeão e Brasília têm instrumentos de segunda geração, e nenhum de terceira)?
Claro, isso não é uma pergunta a ser feita só à Infraero. Espero que o tal ministério do Mangabeira Doido mude as coisas nesse sentido, mas, na língua dele, I hope, e não expect.


PS Chances do movimento Fora Lula amainar, quanto mais se desculpar, sabendo que o avião não caiu por obra e graça do Sapo Barbudo: 0%

25.7.07

O que é bom pra Odebrecht é bom pro Brasil

Já comentei sobre como só quem se beneficia com a opção pelas usinas do Madeira, ao invés de outras medidas de geração de energia, são as grandes empreiteiras. Outro exemplo de como o fascínio do concreto (por motivos ingênuos ou escusos) atinge o Brasil, e em especial os governos, é essa idéia de jerico de se fazer um novo aeroporto em São Paulo, que segundo o Valor já conta até com sugestões da ANAC sobre os possíveis sítios.
Vamos lá: a macrometrópole paulista, que se estende entre Santos, Campinas, e São José dos Campos, não apresenta nenhum local, num raio de mais de 150Km de Congonhas, que já não nascesse com os mesmos problemas deste. Além disso, qualquer aeroporto novo teria os mesmos problemas de acesso hoje enfrentados por quem tenta ir aos aeroportos de Guarulhos ou Viracopos.
Enquanto isso, dentro dessa macrometrópole JÁ EXISTEM dois aeroportos de grande porte (pensando só na pista), Viracopos (este com pista mais comprida que as de Guarulhos) e São José dos Campos, sem contar a base aérea de Santos, mais a possibilidade de se usar o Campo de Marte para jatos menores. A expansão desses aeroportos e ligação deles por trilho com o centro de SP custaria muito menos do que essa burrice de fazer aeroporto novo, e não só escaparia das complicações socioambientais concomitantes como ainda por cima representaria uma nova opção de transporte dentro da metrópole. Ainda por cima, no médio prazo, tanto S. José dos Campos quanto Viracopos poderiam ser paradas do TAV Rio - Campinas. (Parador: Central do Brasil, Galeão, Volta Redonda, S. José dos Campos, Guarulhos, Estação Central de São Paulo, Viracopos, Campinas. Expresso: Central do Brasil, São Paulo)

24.7.07

Palavrões II - Remembramento

Remembramento é o contrário de desmembramento, obviamente. É importante quando um lote urbano (digamos um quarteirão) que antes estava dividido entre vários imóveis e/ou terrenos é adquirido por um único proprietário, que o transforma num único imóvel. O exemplo mais óbvio é o dos condomínios de luxo "neoclássicos" que proliferam nos bairros de luxo de São Paulo.
A maioria das cidades tem algum tipo de regra quanto à possibilidade de remembramento de lotes, justamente por considerar que o lote-quarteirão, sem comércio nem saídas na rua, fora um único conjunto portão/guarita, esteriliza a mesma rua, eliminando a vida urbana que poderia acontecer lá. A rua entre dois condomínios enormes é simplesmente lugar de passagem; se a proporção delas se avolumar o bastante temos a situação em que a vida passa a acontecer, como no Plano-Piloto de Brasília, dentro dos shopping centers.
A especulação imobiliária, cada vez mais, nessa questão e em outras, começa a moldar a cidade à sua própria imagem e semelhança, destruindo o passado complicado e, ironicamente, criando uma cidade zonal mais perfeita do que qualquer uma que já tenha sido sonhada pelo CIAM, até porque, ao contrário de processos de especulação imobiliária do passado, transcende as fronteiras e condicionantes do espaço urbano até mais do que qualquer Haussman ou Lúcio Costa. O que leva a outro palavrão meio cabeludo - permeabilidade. Permeabilidade (que todo mundo deve fazer idéia do que seja) é importante porque é, de certa forma, o "chão" das relações urbanas. O espaço se constitui a partir de locais permeáveis, nem dos absolutamente abertos nem das paredes lisas. A alteração mínima da permeabilidade - digamos que um lote extenso tenha uma grade ou um muro, ou mesmo a transparência visual de uma grade - já afeta consideravelmente a percepção de um lugar.

20.7.07

A canga de bois do Brasil

Em Abril, tive a oportunidade de conhecer a pontinha de São Paulo, onde o Paranapanema deságua no Paraná. Uma das coisas que pensei, enquanto o carro me conduzia de Presidente Prudente a Presidente Epitácio (fora a quantidade de "Presidentes algumacoisa") foi que aquilo tinha um ar meio medievalesco. Parte por um efeito da natureza - nascido e criado ao lado da serra do mar, nunca tinha visto um grande rio de planície, como o Paraná. A natureza lá lembra muito, se você tirar as palmeiras, a estepe arbórea da Ucrânia, e dá quase pra imaginar uma druzhina de bogatyri saindo de um dos castelos.
Castelos? Isso mesmo, castelos. Porque os últimos governos de São Paulo, um pouco menos assassinos do que os do Rio, em compensação gostam muito mais de construir cadeias, e a justiça paulista tem alergia a penas alternativas. Então, ao longo da rodovia Raposo Tavares, a cada poucos quilômetros se erguia um presídio, como aqueles trechos do médio Danúbio que turistas gostam de visitar de bateau mouche.
E não é que as condições nesses castelos são mesmo dignas de uma masmorra medieval? Como nessa reportagem da Carta Maior:

Na última quarta-feira (18), a Defensoria Pública do Estado de São Paulo reiterou na Justiça seu pedido de interdição da Penitenciária Feminina de Sant'Ana, que abriga atualmente cerca de 2.700 mulheres – a capacidade da unidade, maior da América Latina, é de 2.516 pessoas.

O pedido anterior, feito em maio, baseava-se na falta de médicos e medicamentos, na má qualidade da água e na infestação do espaço por ratos e pombos doentes. No entanto, mesmo ainda sem sentença definitiva sobre o pedido, a Defensoria Pública resolveu reiterá-lo com veemência, depois de tomar conhecimento da morte de uma detenta por leptospirose, no último dia 23 de junho. O novo documento já está com o juiz corregedor da Vara de Execuções Criminais (VEC), Cláudio Amaral.

18.7.07

Palavrões I - Sobrecarga Tóxica Total

STT (dos oceanos), ou TTO em inglês, é o termo referente a uma teoria pela qual a carga tóxica nos oceanos, e sua concentração em predadores superiores, é um processo que não apenas seguiria uma curva exponencial mas, a partir de dado ponto (por enquanto incognoscível), essa acumulação exponencial se aceleraria rápida e drásticamente. Isso é, num momento os oceanos estão mais ou menos normais (mas mesmo hoje em dia comer atum, tubarão ou peixe-espada já é um tanto arriscado), no dia seguinte tudo que pese mais de cinquenta quilos nos oceanos está boiando de barriga pra cima. E, claro, sem os predadores pra regular o ecossistema, em mais algumas semanas o oceano como um todo virou um deserto sem vida.
A hipótese, assustadora e catastrófica, é um caso extremo de como, cada vez mais, o mar que até recentemente era visto como infinito está sendo transformado por nós num verdadeiro "imenso sudário das águas." Um exemplo de menor porte (mas ainda gigantesco), quase desconhecido das pessoas em geral apesar da escala continental, são as zonas mortas sazonais próximas a áreas de grande concentração de fertilizantes (orgânicos ou químicos). Este ano, a previsão é de que a maior delas, a do Golfo do México, vai atingir um tamanho sem precedentes. Algo parecido com a área de Sergipe.

16.7.07

Contextos e mangas

Um dos problemas com a utilização de mapas e infográficos por jornais é que, bem, eles são frequentemente utilizados como um jeito de se dirigir ao "homer simpson," que seria mais fácil do que o texto corrido. Isso pode ser constatado pela associação deles com a "popularização" (mediocrização) do próprio texto jornalístico, e relaxamento da ética do jornal. Só que, ao contrário do que pelo visto se acha, mapas frequentemente requerem mais conhecimento do que está por trás deles, e não menos, do que textos, ao mesmo tempo que fazem com que o não-entendimento se torne menos claro.
Um exemplo está nos mapas publicados pelo Financial Times em seu especial sobre a escassez de água http://media.ft.com/cms/6ba9128e-32c7-11db-87ac-0000779e2340.swf . Olhando para eles sem imaginar, pelo menos, os mapas (cartogramas) de água doce utilizável e de população, não fica imediatamente óbvio, por exemplo, que a Austrália ser um grande exportador de água é algo quase insano.
A situação é análoga, de certa forma, ao uso pelas ciências humanas de termos correntes, desde os anos 30 e 40, resignificados, ao invés de palavras de jargão mais óbvias como reificação, Gesellschaftsgemeinschaft, ou Weltanschauung. Elas fazem com que as pessoas achem que entendem do que está se falando, enquanto o "jargão" numérico das ciências exatas é mais obviamente indecifrável (exceto quando transformado em gráficos, aí fica "fácil")
O grande problema dessa combinação entre a defasagem entre o conhecimento especializado e o conhecimento geral, de um lado, e a dificuldade em apreender essa defasagem, do outro, especialmente da parte de jornalistas, é que ela torna muito mais complicado "deixar que o leitor tire suas próprias conclusões." Por isso que eu, como não tenho nenhum bom nome jornalístico a zelar, e com toda a honestidade, digo o mesmo que disse sobre a agricultura australiana sobre o cultivo de flores e frutas irrigadas no Nordeste (uma das motivações principais para a transposição do São Francisco): é maluquice.

12.7.07

Flawless Victoly!

Uma das coisas que me assustam, no embate ideológico brasileiro e mundial, é a idéia do "pragmatismo." Não que eu seja contra o pragmatismo propriamente dito, antes pelo contrário. Me considero um resignado, poltrão, ou o termo que se queira usar pra alguém que desistiu de sonhar, politicamente. Et pourtant, o assunto de que falo é diferente: é a apresentação de determinada posição ideológica como realista ou pragmática, numa petição de princípio que, o que é pior, raramente é questionada. Exemplo principal no Brasil: a posição dos advogados dos "direitos humanos para humanos direitos" de que a situação de guerra (sem convenção de Genebra) é o único jeito de se enfrentar o tráfico de drogas. Isso não é uma posição realista ou pragmática, antes pelo contrário (como pode ser comprovado pela escalada da violência não-policial em seguida ao aumento da violência policial, ao longo das últimas décadas. Comprovadamente, a guerra e o extermínio não funcionam, mas a defesa delas foi aceita como a posição realista em oposição à posição moral, de defesa dos direitos humanos. Essa falsa dicotomia entre o moral e o pragmático se estende a diversos outros campos, no Brasil talvez mais do que em outros lugares. Vide também a política energética, que leva a outra reclamação minha sobre política, o papel da pinimba:
Apesar de muito se falar de princípios políticos, se ligando por afinidades lógicas ou eletivas, a verdade é que muitas vezes a filiação política é mais negativa, isto é, de oposição, do que positiva. Isso pode ser visto com muita força na oposição ao "ambientalismo" da parte de muita gente. Mesmo que as medidas "ecológicas" sejam mais baratas, gerem renda, etc etc etc, as pessoas são contra elas por definição. Tomemos as usinas do Rio Madeira, que acabaram de forçar inclusive a reformulação do próprio ministério do meio ambiente. Descontemos a posição da Odebrecht, que é "nós vamos encher a burra de grana." O que sobra? Uma obra caríssima, com um custo oculto adicional de 15bn (as linhas de transmissão) a ser coberto integralmente pelo governo, com externalidades desconhecidas e imprevisíveis, fora que sabemos que serão consideráveis. Que conservador ou liberal seria a favor de um troço desses, se não fosse a oportunidade de causar devastação ecológica num rio do tamanho do Mississípi, sabendo que daria pra poupar e gerar mais de três vezes a quantidade de energia envolvida, a um quinto do custo, com medidas como programa de distribuição de lâmpadas fluorescentes (em ruas e casas), atualização tecnológica de usinas antigas, reflorestamento de reservatórios, etc?

24.5.07

Total Ascia Orwell

Desculpas pelo título meio Engrish, mas é que não consegui ainda engolir direito a notícia: o McDonald's quer mudar o dicionário porque não gosta da definição de "McJob."

Paimducéu.

Na BBC:



The Oxford English Dictionary currently describes a McJob as "an unstimulating low-paid job with few prospects".

McDonald's says this definition is now "out of date and insulting", and claims a survey found that 69% of the UK population agree it needs updating.

The campaign by the firm's UK arm is backed by the government's skills envoy and former CBI boss Sir Digby Jones.

'Making a stand'

"The current definition is extremely insulting to the 67,000 people who work for us within the UK," said McDonald's senior vice president David Fairhurst.

"It is also insulting for everyone else who works in the wider restaurant and tourism sectors.

"It is time for us now to make a stand and get the Oxford English Dictionary to change the definition."

21.5.07

Da Pinimba

Apesar de muito se falar de princípios políticos, se ligando por afinidades lógicas ou eletivas, a verdade é que muitas vezes a filiação política é mais negativa, isto é, de oposição, do que positiva. Isso pode ser visto com muita força na oposição ao "ambientalismo" da parte de muita gente. Mesmo que as medidas "ecológicas" sejam mais baratas, gerem renda, etc etc etc, as pessoas são contra elas por definição. Tomemos as usinas do Rio Madeira, que acabaram de forçar inclusive a reformulação do próprio ministério do meio ambiente. Descontemos a posição da Odebrecht, que é "nós vamos encher a burra de grana." O que sobra? Uma obra caríssima, com um custo oculto adicional de 15bn (as linhas de transmissão) a ser coberto integralmente pelo governo, com externalidades desconhecidas e imprevisíveis, fora que sabemos que serão consideráveis. Que conservador ou liberal seria a favor de um troço desses, se não fosse a oportunidade de causar devastação ecológica num rio do tamanho do Mississípi? E ainda me vem gente falando das usinas atômicas como se fossem a única alternativa, e não uma forma de o Lula pressionar os ambientalistas em favor da aprovação das usinas do Madeira.

30.4.07

MEND

Um artigo na Vanity Fair mata dois joelhos com uma cassetetada só: é um exemplo de excelente jornalismo investigativo, uma denúncia inteligente das condições que permitem o funcionamento da economia mundial (que se baseia, como dizia Malcolm X, no sofrimento "daquele mineiro na África"), e serve pra me poupar o trabalho de escrever o próximo artigo da série Lugares Estranhos do Mundo. Porque poucos lugares podem ser mais estranhos do que um gigantesco labirinto de manguezais, onde instalações mecânicas gigantes guardadas por mercenários do mundo inteiro convivem com aldeias patrulhadas por homens possuídos por voduns, que se pintam com giz para se resguardar das balas. Pensando melhor, acho que tinha que começar uma série "evidências de que William Gibson era um profeta." Ou só "um jornalista."

27.4.07

A união faz a força

Acho que ninguém em sã consciência gosta da Segolène Royal. Ela é basicamente um Tony Blair de saias, que se fizer alguma coisa vai ser pra pior. Mas o argumento de que tanto faz como tanto fez é um conto no qual eu já caí quando Gore e Bush se enfrentaram, e depois dessa lição sem vaselina, confesso que torço com todas as forças por ela. Porque o melhor comentário sobre o Schtroumph Facho é esse aqui

25.4.07

A província mais solar do império interrogação

Deu no Valor de hoje:
Entre 2004 e 2006 o Brasil foi o país onde houve o maior crescimento do investimento em pesquisa e desenvolvimento. Os valores gastos chegaram a US$ 32,62 bilhões no ano passado, uma expansão de 36,6% em relação a 2004.

Na comparação com o ano imediatamente anterior (2005), o aumento foi de 15,6% e o país ficou atrás somente do Japão, que investiu 25% a mais.

No entanto, em termos absolutos, os gastos brasileiros com inovação ainda são muito tímidos. Enquanto o país passou de um patamar de US$ 24 bilhões em 2004 para US$ 32,6 bilhões no ano passado, a China investiu mais de quatro vezes esse valor, chegando a US$ 140 bilhões em 2006.

O dragão chinês está cada vez mais forte e, em 2005, passou a gastar, em dólares, mais do que o Japão com pesquisa e desenvolvimento, e foi superado apenas pelos EUA.

Para Marc Giget, que apresentou esses números em palestra durante o II Congresso Brasileiro de Inovação da Indústria, o Brasil não vai mal no que diz respeito à inovação, mas o desafio-chave para avançar ainda mais é a educação.

Segundo ele, é preciso formar profissionais pós-graduados em áreas técnicas que trabalhem com inovação e agreguem valor à produção local. "Na China, existem 13 milhões de estudantes nas Universidades", lembra Giget, membro do Centro Nacional e Artes e Ofícios da França.

Giget define a inovação como a integração melhor dos conhecimentos em um produto criativo que permita "ir além do que tange a satisfação dos indivíduos."

E acrescenta que nem sempre P&D precisam levar à criação de novo material ou de novo processo, mas podem, sim, levar a novo jeito de usar certo material ou de realizar determinado processo.

Ainda assim, o Japão, que investe cerca de US$ 120 bilhões por ano em pesquisa, é o líder em criação de novos produtos e registro de patentes.

Em 2006, foram 350 mil, mais de duas vezes o número do segundo colocado do ranking, os EUA, que patentearam 169 mil produtos e tecnologias.

O Brasil ficou em 11º, com 4.280 patentes requeridas, bem atrás da China (48 mil), de Taiwan (9 mil) e da Itália, com 4,4 mil patentes.

Para Armando Monteiro Neto, presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), entidade que organizou o congresso, a ampliação dos investimentos em inovação é essencial para que as empresas brasileiras se tornem mais competitivas.

Hoje, segundo dados apresentados por Marc Giget, o Brasil investe 1,6% de seu Produto Interno Bruto (PIB) em P&D e está na lista dos grandes países investidores em inovação junto com EUA, China e Índia.

O Japão, porém, investe 3,2% de seu PIB, que é quase três vezes o brasileiro. A China, investe menos: 1,5%, mas tem um PIB quase cinco vezes maior que o do Brasil.

Ernesto Pousada, diretor da Suzano, empresa produtora de papel, diz que faltam projetos de inovação que pensem em como gerar valor para o consumidor final.

Para ele, o setor privado ainda precisa criar uma cultura para inovação de forma a estruturar melhor a aplicação de recursos em pesquisa.

12.4.07

RIP

Ia escrever sobre o 300, e sobre o Pronaf, ao invés disso

RIP Kurt Vonnegut
Que escreveu Slaughterhouse Five, sobre a loucura de Dresden da qual ele foi um dos poucos sobreviventes, e Cat's Cradle, sobre a loucura da corrida haplocientífica da qual foi um dos muitos, e mais um monte de coisas fodas. E dançava.
Ah, ela fala, bem, você não é pobre. Sabe, por que você não compra pela internet uns cem envelopes, e guarda no armário. E aí eu finjo que não ouço ela. E saio pra comprar um envelope, porque vou me divertir pra caramba ao comprar um envelope. Encontrar um monte de gente. Ver umas gatas lindas. E passa um caminhão dos bombeiros. E eu aceno pra eles. E, pergunta uma mulher, que cachorro é esse? E, não sei. A moral da história é que, bem, a gente tá nesse mundo pra enrolar. E, claro, os computadores vão acabar com isso. E, o que o pessoal do computador não entende, ou não se importa, é que nós somos animais dançantes. Sabe, a gente adora se mexer. E, agora nós não devemos mais dançar.

Mais do mesmo:
http://en.wikiquote.org/wiki/Kurt_Vonnegut

11.4.07

300 - Gott mit Uns

Ai minha nossa senhora aquerupita, é pior do que eu pensava!
Tem quem reclame da violência do filme - bem, me incluam fora dessa. Sou fã de Kill Bill, assisti Ong Bak sem piscar um olho, e me amarro em violência como estética. Então não, não é a violência gratuita meu problema. Meu problema é com as horas em que ninguém tá levando porrada.

Como bom nerd, sempre fui tarado pelos quadrinhos do Frank Miller. Mas o homem tem certas tendências um...digamos, politicamente incorretas? Não muito simpáticas? Meio nazis? Fascistas. Fascistas parece bom. Isso é bem nítido em quase toda a obra dele, desde que o Übermensch Batman enfia porrada no Übermensch Super-homem pelo crime de ter se sujeitado aos Untermenschen, mas 300 sempre foi, pra mim, a única revistinha de que eu realmente gosto e que eu nunca entregaria pr'uma criança pra ler, de medo que ela gostasse demais.

Isso porque no discurso do Leônidas, falando sobre liberdade e lei e razão e justiça, tem uma sombrinha meio breu de discurso de fascista, já que essa liberdade e lei e razão e justiça não têm nada a ver com nenhuma ação, são característica inerente dos espartanos branquelos versus a tirania dos negões efeminados que são os persas. Afinal, o Rei Leônidas deixa bem claro, como se a própria realidade heavy metal espartana não bastasse, que aquilo não é uma democracia. E tem toda a glorificação dos "fortes" etc etc etc que me lembra só a frase do Chesterton sobre Quinta-Feira - "como qualquer outro, ele era covarde o bastante pra temer uma força desmesurada. Mas não era covarde o bastante pra admirá-la."

Parêntese - de onde o Miller tirou a idéia de representar os arianos originais como negões?
Pois bem, então pra que diabos fui ver um filme baseado numa revistinha meio nazi? Bem, porque ideologias à parte Frank Miller é muito bom. E Sin City, a outra adaptação cinematográfica de uma obra sua, é um puta filme. Achei que dava pra relevar esse fascismozinho subjacente e só me empolgar com os espartanos descendo a porrada geral e sendo mortos. Aí entra o diretor pra estragar a festa.

O filme é tecnicamente lindo, isso não dá pra negar. O pessoal da fotografia e dos SpFx tá de parabéns. Mas, bem, é um caso raro em que inequivocamente tudo que o roteirista adicionou ao material original serviu pra estragar. E no caso, estragar significa tanto "menos empolgante" quanto "mais fascista."

- A porradaria, que lembra joguinho de Playstation (aliás, o filme todo) deixa meio ridículo todo o papo das Termópilas serem um local estreito, onde o número dos persas não conta. Eles tão todos mandando ver no Kung Fu Prince of Persia, não aproveitando o terreno.
- Transformou um filme épico em um filme de fantasia, com os Imortais virando orcs, um ogre, um carrasco monstro, rinocerontes de guerra...coé? Uma regra básica de fantasia e ação é que você mede as coisas pelo universo onde tão; é menos impressionante mandar uma lança pelo ar uns quinze metros se o teu amigo matou um rinoceronte de primeira. Aliás, não´é nada impressionante. É que nem a diferença entre o D'Artagnan brigar com três de uma vez e alguém fazer o mesmo numa revistinha Marvel.
- Comentei dos Imortais terem virado orcs? Pois é, mas os persas todos viraram monstros degenerados. No Frank Miller, eles eram só boiolas e "tirânicos." No filme, eles matam criancinhas e fazem árvores de gente. Fora a cena de estupro gratuito pelo amigo deles espartano. E que o Xerxes, que na revistinha era arrogante e fdp mas olhava com desdém pra lança que arranca-lhe os piercings, no filme fica chorando que nem menina.

Aliás, toda a parte de Esparta do filme, que não tava na revistinha, é desnecessária. Só serve pra duas coisas: quebrar o ritmo do filme (que deveria estar focado na violência e no sentido de tragédia, do fim se aproximando), e, ao humanizar os espartanos, ficar ainda mais nazi. Bem, ao humanizar e arianizar, porque os espartanos da revistinha tinham cabelo tóim-óim-óim, os do filme podiam entrar no pôster de recrutamento do NSDAP. Isso porque, ao invés de você ter dois lados se pegando, desse jeito você tem os bonzinhos (espartanos) vs. os malvados. O filme força a barra diversas vezes pra deixar os espartanos parecendo gente; mostra o machismo persa como desculpa para a "blasfêmia, loucura" de jogar mensageiros no poço, mostra o capitão chorando pelo filho (achei nessa hora que ele ia matar o império persa inteiro), o Leônidas sendo marido e pai amoroso... Diga-se de passagem, com todo o respeito à Gorgo histórica e lendária (que devia ter uns 14 anos e teria dito a frase do "com seu escudo ou sobre ele"), o casamento em Esparta se parecia mais com o primeiro dia na cadeia de um moleque magrelo do que com uma relação amorosa coigual heterossexual na moderna sociedade ocidental.

Em resumo: o filme podia ter sido dirigido pelo Mel Gibson, com o sotaque escocês do Leônidas berrando FREEDOOOOOM.
Gostei mais dos créditos no final. Tá, a Oráculo é de babar.

4.4.07

Descamisados del aire

Fico na dúvida se o artigo abaixo, sobre disparidade de renda e social, é um caso intencional de ironia ou se foi sem querer. Mas mesmo na comparação entre os que têm e os que têm mais, é bom porque deixa clara uma das facetas da disparidade de renda, que muita gente não entende: que a pobreza não é mensurável simplesmente no acesso a determinada quantidade de bens (materiais ou não), mas pela própria disparidade dentro da sociedade. Sem nem entrar na questão, proposta pelo Elias e desenvolvida na economia pelo Sen, de que essa disparidade deve ser medida mais em termos de oportunidades do que de estados presentes.

http://www.economist.com/blogs/freeexchange/2007/03/airlines_and_inequality.cfm

9.3.07

Muita gente gosta do Kírchner porque ele supostamente teria "cojones" de fazer aquilo que (por exemplo) o Lula não faz. Deixa pra lá que boa parte disso não dá certo, ou que o maior ato de "bravura" atribuído a ele, o calote, antecedeu sua presidência. Pessoalmente, não sou muito fã de barraco, e acho que se tem alguém que merece a pecha de "populista" tão liberalmente distribuída por aí é Pinguim.
Mas numa coisa eu realmente queria que o Brasil seguisse o exemplo dele: na Argentina, qualquer imigrante pode requisitar a naturalização e obtê-la, sem maiores obstáculos. A facilidade, prevista para os europeus a partir da constituição do país, tinha sido revogada quando a imigração começou a ganhar cara de barro cozido, nas palavras do capitão Haddock.
Enquanto isso, no Brasil é uma odisséia até para filhos de pais brasileiros, branquinhos e alemães, se naturalizarem. Para os caras de barro cozido, a dificuldade é grande o bastante pra servir de auxílio na manutenção do estado de semi-escravidão em que vivem centenas de milhares de imigrantes ilegais, principalmente bolivianos, principalmente em São Paulo.

Tanto no Brasil quanto na Argentina, a importância da imigração européia, em detrimento de outros povos, é hiperenfatizada, a ponto de ter gente que se surpreende quando descobre a verdadeira importância dela no povoamento. A diferença é que lá eles não tiveram um Getúlio que lhes impusesse o fechamento. E com isso o Brasil consegue o feito de possuir os dois tipos de escravidão, o tradicional e o imigrante. Coisa de primeiro mundo!

13.2.07

Free, free, Mike Tyson Free!

Bem, no caso free, free, Flipper free...

Depois eu digo que o mundo tá virando um conto cyberpunk, e acham que é exagero. Se bem que isso tem muito de história secreta também.

Resumo da ópera, pra quem tem preguiça de clicar em link: os EUA utilizam, no Golfo Pérsico, golfinhos como soldados, submetidos ao tipo de tratamento que chamaríamos de, bem, desumano. Sua função principal é desativar minas. São mais de 100 golfinhos no programa da US Navy, e a URSS mantinha uns 500, muitos dos quais encontraram trabalho em outros países mundo afora, depois da Gloriosa Libertação Capitalista.

12.2.07

Juro que vi o lobo!

Alguém se lembra do Colin Powell apontando pras carrocinhas de sorvete e dizendo que eram laboratórios de armas químicas, ocasião em que ele ganhou o Troféu Cara de Pau do Ano Internacional?

Bem...

Aposto na guerra começar em março.

2.2.07

Maltesas

Hoje se fala muito em contêineres, mas na verdade a revolução logística, da qual eles fazem parte, perpassa o século XX. Até o século XIX, a maior parte da carga transportada por navio era carregada numa espécie de contêiner primitivo, o barril, que se acomodava aos cascos de madeira, era relativamente impermeável e bastante resistente. Todo tipo de carga, de roupa a trigo, era transportado em barris. Se você já leu algo falando de quantas toneladas um navio transporta, já cometeu um engano, o de achar que essas toneladas representam um peso, quando na verdade, as tais toneladas representam o volume de um desses tonéis. A tonelada padrão de hoje em dia mede 100 pés cúbicos (isto é, a não ser pra produtos muito leves, geralmente representa bem mais do que uma tonelada de peso).

Desde os anos 30, vários tipos de carga passaram a ter navios especializados criados para tornar mais eficiente (isso é, rápida e precisando de pouca gente) a operação de carga e descarga. Navios tanque ou cargueiros a granel, hoje, podem ser carregados quase automaticamente, tanto que as leis determinando, em cada país, uma reserva de mercado para os estivadores, eximem esses navios, porque é muito pouca gente que cada um movimentaria. Essa "industrialização" da atividade portuária, substituindo o sem-número de trabalhadores braçais especializados que havia antes por procedimentos estandardizados e mecanizados, se estende à carga geral com os contêineres.

Em todos os casos, o que há é um aumento enorme da "eficiência." Isso, tanto quanto a expansão da comunicação, é que torna possível a globalização. Antigamente, seria quase impossível montar um carro ou um computador em quinze países diferentes, porque se gastaria fortunas no frete; hoje o frete é microscópico. Mas esse progresso, como tantos outros, é um tanto mais equívoco em termos de felicidade do que pareceria. Ao mesmo tempo que barateia e espalha as atividades diversas que dependem do frete marítimo, faz com que o próprio frete seja um negócio que cada vez utiliza menos gente, cada vez mais restrito às linhas regulares, ao invés da confusão de navios que ligavam o mundo todo. Tô pondo na conta de linhas regulares os navios especializados de granéis, que a rigor não o são, sendo contratados por viagem, mas o efeito é parecido, já que eles geralmente viajam fazendo a cadeia giratória entre dois portos. (Exemplo é o maior cargueiro do mundo, o Berge Stahl, que só anda entre Roterdã e São Luís do Maranhão)

Graças à eficiência, a cultura portuária vai se esvaziando. Marinheiros não ficam mais dias em terra, e sua cultura deixa de ter tanto contato com todas as que passam, suas vidas ficam mais parecidas com a de trabalhadores de plataformas petrolíferas ou minas. (Estão minerando comércio?) Por conta disso, a própria estrutura da profissão vai mudando, com países de tradição náutica como a Grécia e a Noruega perdendo espaço para os países dos imigrantes esforçados da Ásia tropical. Um consolo para as putas do cais do porto, já que os filipinos são, dizem, mais educados do que os europeus. Pobre consolo; o movimento no cais do porto só tende a diminuir e a mudar de forma, à medida que a casa onde o marinheiro passava uns dias vira uma rapidinha.
Enquanto isso, as localidades tocadas pelo mar também mudam. Muito antes de serem afundadas pela subida no nível do mar, várias ilhas e pequenas localidades no Pacífico estão sendo "afundadas" pelo fim da única ligação que tinham com o mundo, à medida que os fluxos vão se concentrando cada vez mais nas rotas mais lucrativas. Perdem os correios, os marinheiros que sustentavam a economia, são deixadas de lado na esteira do SS Globalização. Deixarão de existir, já que mesmo sem as forças que esgarçam localidades pequenas em geral hoje em dia elas seriam inviáveis, sem os navios. Surgiram para eles, afinal.
Nem são só as pequenas cidadezinhas que são afetadas pela Eficiência. Mesmo antes grandes portos são reduzidos a escalas secundárias, e os equipamentos que precisam de menos gente precisam de cada vez mais espaço, se afastando da cidade. Os novos portos, mesmo quando não são associados à indústria de transformação, são grandes áreas industriais, não áreas de comércio e serviço no meio da cidade. Os velhos, são "revitalizados," e yuppies trabalhando e vivendo nos armazéns antigos.

Post com links deixados pra amanhã.

29.1.07

One. Million. Dollars.

George W. Bush sempre levou jeito de vilão do Capitão Planeta, com sua obsessão em detonar a reserva ecológica do norte do Alasca como solução pra todo e qualquer problema. Pois bem, agora ele acaba de graduar para vilão de James Bond, e dos mais loucos, porque sugeriu como solução pro aquecimento global a criação de um ESPELHO GIGANTE NO ESPAÇO PARA BLOQUEAR O SOL. Isso prova também que a administração americana atualmente só tem sicofantas e yes men, porque acho que até o Trofim Lysenko ia levantar a mão numa hora dessas e rir da idéia de ESPELHOS GIGANTES NO ESPAÇO. (sic, sic, sic, sic, pelamordedeus sic!)

O problema que ele identificou é bastante real - com a melhor das intenções, é bem possível que não possamos diminuir significativamente, muito menos reverter, o efeito estufa, e um aquecimento além do tolerável pela humanidade pode já ser irreversível simplesmente pela diminuição das emissões de CO2 e companhia. Mas a solução para esse problema real é coisa de cientista maluco. Sem querer ofender Luthor, Silvana e companhia.

24.1.07

Ops

Uns posts atrás, fiz referência à Silvinha, e esqueci de pôr o link. Agora tá aí.

Quem não chora não mama

Lendo a maioria dos cadernos de economia dos jornais brasileiros, a impressão que se tem é de que o Brasil é um dos piores lugares do mundo para ser empresário - excessão feita à Venezuela, comandada pela Besta-Fera - e que está a um passo do abismo. Por isso, não deixa de ser curioso o resultado da pesquisa feita pela Price Waterhouse Coopers. e divulgada em Davos , entre executivos do mundo inteiro. Nela, os brasileiros estão, junto com a Holanda, no primeiro lugar mundial em otimismo quanto aos próprios negócios, à frente de chineses ou sul-coreanos. Outros resultados também são curiosos: apesar da choradeira dos juros que continua (apesar de boa parte do dinheiro disponível no Brasil de hoje já custar menos do que a SELIC), os brasileiros são os menos cautelosos, os que mais pretendem pegar dinheiro alheio ao invés de investir só com o fluxo de caixa. Tá, este resultado pode ter mais a ver com o sacrosanto destino do lucro, no Brasil, ser o dividendo, e portanto o bolso do dono.
Do geral pro específico, as reações ao PAC variaram entre o desdém, o desapontamento, e o choro e ranger de dentes. Enquanto isso, empresas como Santander, EdP e Vale anunciaram que, graças às novas condições pós-PAC, vão aumentar seus investimentos...
Enfim. Talvez o empresário brasileiro seja só bipolar - já vi um se vangloriando de sua empresa ter crescido 100% em três anos e lamuriando que as condições de negócios eram impossíveis, no mesmo discurso.

23.1.07

Lugares estranhos do mundo VIII - a Finlândia

Ou, mais especificamente, o festival nacional de tango, em Sëinajoki. A própria Finlândia pode se candidatar ao título por vários motivos históricos. Afinal, ela esteve do lado "errado" das duas últimas guerras européias, a fria e a II Grande Guerra, e ninguém se lembra disso. Por conta disso, até hoje o lugar é um paraíso pra alemães "ostálgicos" por produtos comunistas como a Africa-Cola. Naqueles cantos frios do mundo, se fala uma língua que só tem relação mais ou menos próxima com o húngaro, e que ninguém mais no planeta entende. Nem os vizinhos suecos, bálticos ou russos.
Mas o assunto deste post é o Tango Finlandês. Por algum motivo, a febre de tango que passou pelo mundo inteiro nos anos 20 e sumiu, na Finlândia se manteve. Bem entendido, a distância - física e cultural - entre os dois pontos extremos do mundo ocidental é meio grande. Assim, ainda mais numa época em que não havia mp3, aliás nem um mercado de discos tão desenvolvido, em que o maior meio de difusão da música era a apresentação ao vivo, o tango que chegou à Suomi foi um tango filtrado pela Alemanha, quase transformado em marcha. E sofreu outra mudança, essa temática, num país quase recém-nascido, em que o nacionalismo associado às formas de vida e expressão locais era forte: foi camponesado. Ao invés dos lupanares e becos de Buenos Aires, o tango finlandês se sente em casa no campo. A solidão não é a da multidão, mas a do eremita mesmo.
A palavra-chave do tango finlandês é "kaiho," com significado talvez mais próximo do português saudades do que de qualquer outra. O tango finlandês logrou, ao se tornar mais lento e mudar de ares, uma operação fantástica, digna de Borges - juntou, através de um frio pântano boreal, a Mouraria e a Boca.
Hoje, esse tango-fado, quase detonado pela invasão dos Beatles, sobrevive principalmente na forma de festivais "tradicionais" com a intenção deliberada de valorizar a cultura "popular." Não deixa de ser outra ironia, digna de argentino, que uma música que preserva seu nome estrangeiro seja um símbolo nacional.

Eu não disse que era bom...

16.1.07

Força nacional

Eu volta e meia pareço doido por achar que, em muitos campos em que é criticado, o governo Lula foi até bem, ou mesmo espetacularmente (considerando-se a realidade) bem. Na economia, os juros reais foram pra um dígito e a FBCF passou de um quinto. Na redução da desigualdade, a ocorrida no Brasil em quatro anos, por mais oito, nos poria abaixo da China e dos EUA. No ensino superior, o orçamento das IFEs mais que dobrou, e o de fomento à inovação se multiplicou. Até o desmatamento na Amazônia caiu mais do que pode ser atribuído só à queda no preço da soja.
Agora, uma coisa realmente me decepcionou no governo, e pelo visto vai continuar a me decepcionar. Ao invés de usar os poderes da presidência para tentar mudar o foco do debate sobre segurança no Brasil, o governo Lula jogou fora, por um suposto deslize ético, quem queria fazer isso, e muito pelo contrário, encampou a linha-dura. Criou a Força Nacional, que eu acharia até uma idéia razoável se fosse uma força a ser usada em substituição à violência das "tropas de elite" estaduais. Ao invés disso, ela é criada a partir dos "melhores" agentes dessas tropas. Que são, não custa lembrar, torturadores e assassinos - e a própria Força Nacional, atuando no Espírito Santo, já foi acusada de tortura.
Todo ano, mais pretos e/ou pobres "bandidos" (como os chamam a polícia e os jornais - suspeitos e transeuntes, na vasta maioria) são mortos pelas polícias brasileiras do que jamais presos políticos foram mortos pela ditadura. A democracia brasileira, pra imensa maioria da população, não começou em 1985 nem em 1989, nem nunca. Lula, com a Força Nacional, deixou bem claro que não pretende ser o primeiro presidente de um Brasil democrático.
Outro diria que o que é pior é que essa violência por sua vez não resolve violência alguma. Eu já disse que não resolve antes neste blog várias vezes, mas não acho pior não. Dá vergonha saber que o meu governo -e é meu, sem dúvida, já que é legitimamente eleito - mata e tortura.

13.1.07

SS Defi salva o dia

O Jubilee Sailing Trust é uma caridade britânica com um objetivo meio esquisito : manter e operar navios a vela adaptados para pessoas com deficiências. Tipo equoterapia, mas com um clíper no lugar do cavalo. Qualquer um que já tenha lido Conrad ou Melville pode imaginar o quão mais difícil do que andar a cavalo deve ser tripular um treco desses, com suas teias de cabos (que, se partindo, podem rasgar uma pessoa ao meio), velas do tamanho de campos de futebol e vigias da altura de uma torre de escritórios. Tudo coordenado.
Pois bem, o maior dos navios do JST, o Tenacious, no final do ano passado, não só mostrou que defis conseguem atravessar o Atlântico Norte no meio do inverno, como ainda por cima deu uma paradinha pra salvar a tripulação de um barco em apuros, ao longo da costa da Martinica. Sem recorrer hora nenhuma ao motor auxiliar.

12.1.07

Soprando as velinhas dda Slvia L. Plath

O campo de concentração X-Ray, na base americana de Guantánamo, está fazendo cinco anos. Pra comemorar a data, alguns amiguinhos foram à imprensa pra mostrar as realizações do petiz - como enlouquecer pessoas. Atenção para a parte negritada, por favor.


Prisoners held at the Guantánamo Bay detention camp in Cuba are being driven insane by a tightening of conditions and the situation of their indefinite detention without trial, according to lawyers and rights activists involved with the US camp.

The lawyers and activists also doubt whether the Bush administration intends to carry out its stated desire to close the facility.

Protesters around the world plan to mark today's fifth anniversary of the first delivery of detainees to Guantánamo with demonstrations calling for its closure. American anti-war activists and at least one former British prisoner intend to march to the perimeter of the US-held enclave in eastern Cuba.

Kenneth Roth, executive director of Human Rights Watch, says the isolation regime at Guantánamo has tightened in recent months, piling the mental pressure on inmates who have "no fair procedure" that would lead to possible release.

Mr Roth told the Financial Times he had proposed to Angela Merkel, the German chancellor and chairman of the European Union presidency, that EU member states offer to take some of the detainees who cannot return to their home countries for fear of torture.

In exchange the US would offer a concrete closure plan that would lead to trials, preferably before a court martial, of remaining prisoners.

Ms Merkel was "intrigued but non-committal", Mr Roth said. But he does not believe the US is looking to close the camp - despite comments by President George W. Bush last year that he would "very much" like to shut it down.

Mr Roth is also sceptical of Mr Bush's claim in September to have closed CIA-run secret prisons when 14 terrorist suspects were transferred to Guantánamo. Human Rights Watch has documented 15 cases of prisoners who "disappeared" into the CIA prison system before September and have not been accounted for since.

Brent Mickum, a defence lawyer, says one of his two clients, Bisher al-Rawi, an Iraqi-born UK resident, "is slowly but surely slipping into madness" because of "prolonged isolation coupled with environmental manipulation that includes constant exposure to temperature extremes and constant sleep deprivation".

He says Mr Rawi's ration of toilet paper was removed because he used it for shielding his eyes from the light and his prayer rug was taken away because he used it for warmth.


Attorneys representing other prisoners say their clients kept in isolation are going insane.

11.1.07

Bipost

Flex-fuel



Carro flex-fuel não tem mais graça - inventaram o navio flex-fuel. Só que ao invés de álcool e gasolina ele usa vento, energia solar e ondas. O bichinho (tá, o "bichinho" carregará 10.000 carros no porão) tem velas com painéis solares em cima, e aletas ligando os cascos auxiliares aos principais, que funcionarão como uma usina de energia das ondas. A velocidade é um pouco inferior à dos navios de transporte de carros existentes (15 ao invés de 18 nós), e o preço bem superior (100 ao invés de 70 milhões), mas além da poluição zero ele não gasta nada de combustível.

Além de não queimar óleo bunker, o "Orcelle" não tem água de lastro (catamarãs são estáveis sozinhos), evitando o outro problema ecológico gigante dos navios. O único problema dessa segunda medida é que eu imagino a Marinha brasileira multando o Orcelle por não possuir o livro de registro da água de lastro...


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Dove, de novo.

Tá, a explicação de que a propaganda brasileira se destina à classe alta e média, que é mais clara, e por isso tem modelos mais claros, é furada. Os tais modelos são bem mais claros do que essa classe alta e média. Mas ainda dá pra engolir, ainda mais se você falar da auto-imagem dessa classe alta e média, e não dos olhos de um Gobineau "tudo bugre."

Agora, qual é a explicação pra suequidade no caso de anúncios destinados à comunidade nissei??