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28.12.09

Hurt

Tirado da Wikipédia:


"Hurt" has been covered by other artists in addition to Cash, including the following.

Peter Murphy, on some live performances.
Tori Amos frequently sang three or four lines of the song as an introduction to other songs during her Dew Drop Inn tour in 1996, most frequently "Caught a Lite Sneeze", and then again in 1998, as an improvisational bridge.
Breaking Benjamin
Sheryl Crow covered the Cash version on the television special Tribute to Johnny Cash.
Matthew Good, acoustic tour 2006.
Gregorian arranged the lyrics into a medieval Gregorian chant.
Kermit the Frog is featured in an unauthorized parody called "Sad Kermit".
Aaron Lewis of Staind covered the song during his 2007 Have Guitar, Will Travel solo acoustic tour.
Luna Amara
Jeff Martin did a full cover in an acoustic set at the W2 in Holland. He also reversed the lyrical point of view and implemented in to mixed track that consisted of his songs Psychopomp and Requiem which he released on the "Live at the Corner" record.
Montezuma's Revenge
Placebo, at the House of Blues in California in 2003.
Damien Rice, by inserting lyrics from the song into his live performances.
Underoath played it acoustic live.
Sevendust did a cover as a tribute to Johnny Cash on their Southside: Live Double Wide CD/DVD.
Westside Connection sampled the main riff for their song "The Gangsta The Killa and The Dope Dealer".
Anathema have covered the Johnny Cash version several times live, including during their appearance at the 2007 Download Festival.
Eddie Vedder covered the Johnny Cash version live on his 2008 solo tour.
Absurd Minds covered the song on their 2006 EP The Cycle.
Feeder frontman Grant Nicholas played an acoustic cover of the Johnny Cash version, for a BBC Radio 2 session. Later appeared on a Napster Sessions EP.
Christy Moore performed a live version on his DVD Christy Moore Live in Dublin 2006 with Declan Sinnott, again based upon Johnny Cash's cover.
Fightstar played it on a radio 1 rock show session based on the Nine Inch Nails version.
The New Shining covered the song on their Album Supernatural Showdown
Portuguese fado singer Mísia covered the song on her album Ruas (2009). (courtesy of mamis)
New Zealand Band Titular Nebular covered the song on an early demo
David Page Music Performance

18.12.09

Lugares estranhos do mundo IX

Eu prometo que o 10 faço um próprio, mas achei que essa matéria do Valor se encaixava demais na lista pra não repassar.

À rua São Caetano, zona central de São Paulo, o movimento é intenso. São apenas duas da manhã de quinta-feira, dia 17. Ônibus enfileiram-se rumo à rua Monsenhor de Andrade. Bancas à mercê do sereno estão repletas de vestidos pendurados em cabides, iluminados por lâmpadas que se equilibram por um fio. O cheiro de milho verde e de churrasquinho se mistura ao funk e ao samba que vêm dos CDs piratas dos camelôs.

Os ambulantes da rua Monsenhor de Andrade, onde funciona a tradicional "Feirinha da Madrugada", no bairro do Brás, disputam consumidores com os ex-camelôs, que se tornaram comerciantes legalizados e com banca fixa no Shopping Popular da Madrugada, na mesma rua.

No centro da disputa, um público que chega apressado, trazendo nos ombros imensas sacolas. No bolso, no mínimo, R$ 1,5 mil em dinheiro para gastar com produtos para revender. Só neste mês, os sacoleiros movimentam no Brás e na rua 25 de Março pelo menos R$ 50 milhões por noite. Tanto dinheiro chamou atenção até da multinacional Nestlé, que já se instalou no centro de compras mais popular da cidade.

O Shopping Popular da Madrugada deve atingir seu pico de vendas e de público neste sábado, último antes do Natal, quando são esperadas 80 mil pessoas. Criado há quatro anos pela Prefeitura de São Paulo, como alternativa legal aos ambulantes, o lugar se transformou na nova atração do turismo popular de compras da cidade.

Com roupas baratas, acessórios e artigos eletrônicos, seu grande trunfo é contar com estacionamento para ônibus - as 240 vagas originais foram ampliadas para 390, tendo em vista o aumento da procura. Também foram criadas 100 vagas para vans. Cada ônibus paga R$ 50 por noite e, a van, R$ 30, serviço que antes era gratuito, mas começou a ser cobrado este ano.

Com isso, os sacoleiros que vêm das mais variadas regiões do país, principalmente Sudeste e Sul, fazem do Shopping sua base de apoio: compram na feirinha, no próprio Shopping e, ao amanhecer, nas lojas do Brás e da rua 25 de Março. Enquanto isso, vão guardando as mercadorias nos ônibus.

Quem administra o espaço de 140 mil metros quadrados é a empresa GSA, que paga aluguel de R$ 137 mil ao governo federal, uma vez que o terreno, cortado pela linha do trem, pertencia à antiga Rede Ferroviária Federal SA (RFFSA).


Falando na RFFSA: saiu o edital para os trens regionais de passageiros. Entre as linhas, Campinas-Arararaquara, São Paulo-Itapetininga, Santa Cruz-Mangaratiba, e Campos-Macaé.

17.12.09

Vai um snow crash aí, mano?

Fui ler o Global Guerrillas porque queria ver a opinião dele sobre a notícia do dia: guerrilheiros afegãos e iraques conseguiram hackear o sinal de vídeo dos bombardeiros de controle remoto (UCAV) usados pelos Estados Unidos, utilizando um sistema russo desenvolvido pra piratear conexões alheias pegando arquivos com cópiraite. Não (ainda) os controles, mas saber onde estão e o que estão olhando já ajuda...

Lendo o que tinha no blógue desde a última vez que visitei, dei de cara com essa outra notícia aqui, que não sei se é tão cyberpunk quanto a anterior, mas é bastante impressionante - e mais impressionante ainda que não tenha sido objeto de tanta divulgação e grita quanto eu imaginaria.

Drugs money worth billions of dollars kept the financial system afloat at the height of the global crisis, the United Nations' drugs and crime tsar has told the Observer.

Antonio Maria Costa, head of the UN Office on Drugs and Crime, said he has seen evidence that the proceeds of organised crime were "the only liquid investment capital" available to some banks on the brink of collapse last year. He said that a majority of the $352bn (£216bn) of drugs profits was absorbed into the economic system as a result.


Resumindo: quem salvou, em parte, os bancos foram os cartéis da droga. E rapeize dos organismos internacionais fez vista grossa porque o dinheiro era necessário.

16.12.09

Às avessas


O "filósofo" Olavo de Carvalho, que cometia artigos no Globo antes de ficar maluco demais pra este, e hoje recebe uma sinecura do Afif para morar na Virginia, vive de repetir e traduzir lugares comuns da extrema direita americana. Não tem nenhuma relevância além da cômica (ao contrário do seu colega Reinaldo Azevedo, que afinal ainda escreve na Veja, e muito apropriadamente o Hermenauta sacaneia). Mas uma afirmação dele num de seus programas me chamou a atenção porque já a vi antes, em outros lugares, e até dita por gente que não se considera racista: a de que (parafraseando) "a escravidão já existia na África, e se fosse pra escolher o escravo preferia ser vendido para o português."

A afirmação, além de preconceituosa (porque parte do princípio, reificado, de que o português é superior, no caso como dono de escravo), é falsa. É mais do que falsa: é o contrário do que acontecia na realidade. Temos carradas de fontes, do século 17 ao 19, que apontam para o uso da ameaça da venda aos brancos para pôr escravos na linha. Isso não é nenhuma novidade da pesquisa historiográfica - Bastide e Verger já tinham recolhido fontes com esse dado. Se calhar até o Nina Rodrigues. A ameaça se baseava em parte no desconhecimento sobre o que seriam esses brancos estrangeiros (Olaudá Equiano, o primeiro escravo a publicar sua própria autobiografia, fala que achava que os brancos eram canibais), em parte na realidade do inferno que eram a escravidão nas plantações das Américas (muuuuuito pior do que a escravidão na África, com exceção dos poucos escravos de minas e salinas) e, especialmente, no inferno particular que era o navio negreiro. Olhem a foto que abre este post. Tão vendo? Pois bem, o navio ilustrado, na verdade, teria 60% a mais de negros do que o representado; a ilustração mostra o limite de ocupação imposto na Inglaterra no fim do século XVIII, não a realidade, ignorando a lei ou antes dela. Há 462 seres humanos empilhados no navio, com as dimensões corretas, que se chamava Brookes, na ilustração. Em sua última viagem antes da ilustração, o mesmo navio carregou 601. Na mais lucrativa antes disso, mais de 800. Ah, e a ilustração não dá espaço pras vigas suportando o convés, nem pras tinas de excremento.

Realmente, tudo que eu desejaria na vida seria ir parar num lugar desses. Por seis meses a um ano.

15.12.09

Change


OK. Nunca fui dos que achavam que Obama ia redimir os pecados do mundo, apesar de brincar com isso cantando "hey Bama O Bama Bama Bama hey Bama hey Bama Ho BAma." Afinal, nada no histórico dele sugeria que fosse algo mais do que mais um advogado de elite e político americano, mais ou menos conservador, imperialista, como todos os que lhe antecederam com a exceção do pastor que plantava amendoim. Mesmo assim, minhas decepções com ele vêm se acumulando. Geralmente, como no caso da abdicação total de qualquer apoio aos direitos GLBT, eu punha isso na conta do "ele está se concentrando no arremedo de SUS de quinta categoria que quer construir, e isso mal ou bem é uma coisa boa, se ele conseguir."

Mas aí me aparece o discurso, ao receber o prêmio Nobel das boas intenções, explicando que a guerra justa é uma paz mais verdadeira do que a paz se não for legal, uma defesa radical da doutrina da "guerra humanitária" que começou sob Clinton e se radicalizou com Bush (apesar dos Casii Bellorum iniciais da invasão ao Iraque e Afeganistão não terem nada a ver com ela).

A doutrina da guerra humanitária contra países "maus" é, acima de tudo, a hipocrisia elevada ao nível de política externa, já que ninguém imagina os EUA invadindo a Arábia Saudita ou a Colômbia. É, quase perfeitamente, a reedição século 21 do fardo do homem branco. Sobre o fardo do homem branco, escreveu Mark Twain:

Having now laid all the historical facts before the Person Sitting in Darkness, we should bring him to again, and explain them to him. We should say to him:

"They look doubtful, but in reality they are not. There have been lies; yes, but they were told in a good cause. We have been treacherous; but that was only in order that real good might come out of apparent evil. True, we have crushed a deceived and confiding people; we have turned against the weak and the friendless who trusted us; we have stamped out a just and intelligent and well-ordered republic; we have stabbed an ally in the back and slapped the face of a guest; we have bought a Shadow from an enemy that hadn't it to sell; we have robbed a trusting friend of his land and his liberty; we have invited our clean young men to shoulder a discredited musket and do bandit's work under a flag which bandits have been accustomed to fear, not to follow; we have debauched America's honor and blackened her face before the world; but each detail was for the best. We know this. The Head of every State and Sovereignty in Christendom and ninety per cent. of every legislative body in Christendom, including our Congress and our fifty State Legislatures, are members not only of the church, but also of the Blessings-of-Civilization Trust. This world-girdling accumulation of trained morals, high principles, and justice, cannot do an unright thing, an unfair thing, an ungenerous thing, an unclean thing. It knows what it is about. Give yourself no uneasiness; it is all right."

Now then, that will convince the Person. You will see. It will restore the Business. Also, it will elect the Master of the Game to the vacant place in the Trinity of our national gods; and there on their high thrones the Three will sit, age after age, in the people's sight, each bearing the Emblem of his service: Washington, the Sword of the Liberator; Lincoln, the Slave's Broken Chains; the Master, the Chains Repaired.

It will give the Business a splendid new start. You will see.

. . . . . .

And as for a flag for the Philippine Province, it is easily managed. We can have a special one -- our States do it: we can have just our usual flag, with the white stripes painted black and the stars replaced by the skull and cross-bones.

. . . . .

By help of these suggested amendments, Progress and Civilization in that country can have a boom, and it will take in the Persons who are Sitting in Darkness, and we can resume Business at the old stand.

14.12.09

Schaden schaden schadenfreude

OK, sou pacifista, paz e amor bicho, porrada só na rodinha...mas confesso que não deixei de dar um sorrisinho ao ver a carantonha do Berlusconi ensanguentada. Por que isso?

Porque quando se diz que um político é fascista, normalmente é hipérbole pra dizer que ele é um reaça autoritário. (Cf. Le Schtroumphissime)

Quando se diz que é mafioso, geralmente é hipérbole pra significar que ele é corrupto. (Cf. mais ou menos todos os DEMocratas)

No caso do Berlusconi, mafioso e fascista é simplesmente uma descrição literal do que ele é.



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A Economist, falando sobre a tentativa do New Labour de virar um pouco Labour, aposta que Another obstacle is that the Tories are not stupid enough to die in the ditch for the rich. They have swallowed most of the government’s rich-squeezing policies, albeit reluctantly. At the election, the rich will have no champions. Aqui no Brasil, PSDEMB são de fibra mais sólida do que os Tories britânicos, pelo visto.

10.12.09

Petrobrás detona igreja histórica

Oposição papou mosca em não fazer essa manchete. Finalmente algo de verdade pra cruzada deles contra a Petrossauro.

Sonhando o Rio

O Grobo tem um caderno especial com, entre outras coisas, projetos dos seus leitores para o Rio. Os projetos vão do banal (pintar as casas de favelas) ao óbvio (uma passarela subterrânea ligando o MAM e o Santos Dumont ao metrô, com esteiras rolantes) ao alucinado-genial (linhas de teleféricos de grande capacidade margeando e interconectando os maciços montanhosos) ao imbecil (um projeto de mergulhão na Jardim Botânico que pelo visto acha que fazer mergulhão num solo hipersaturado de água e ao lado de uma fieira de palmeiras centenárias é barato).

Eu continuo com os meus. Além, sempre, da idéia do Gaudí Palace Copacabana - um museu usando o projeto de hotel que o Gaudí fez pra Niviórque.



6bn de dólares vão pra renovação da Biblioteca Nacional. Um concurso arquitetônico internacional seria feito para escolher uma proposta de renovação e uso dos edifícios, que incluiriam o presente, o Palácio Gustavo Capanema , e o quarteirão entre a Beira-Mar, a Presidente Wilson, e a Presidente Antônio Carlos, que seria reformado ou arrasado, à escolha do projeto. Além disso, seriam construídas ou adaptadas unidades regionais em Porto Alegre, São Paulo (na região do Anhangabaú ), Goiânia, Recife e Belém. Seriam 2bn em prédios, e 4bn num fundo de renovação permanente do acervo. Arquitetura líquida pro prédio novo do Rio, estilo internacional pra São Paulo, neomoderna em Goiânia, high-tech no Recife e verde em Belém e PoA.




1bn iria para a criação, onde hoje se encontra o gasômetro, de um aquário público de grandes dimensões (o maior do mundo , hoje, é o de Osaka , que custou uns 170 milhões), e para sua manutenção. A idéia é algo que teria um caráter mais sério do que o da SeaWorld (nada de shows, em geral), mas teria um número grande o bastante de atrações interativas (fora os sempre populares túneis dentro de aquários gigantes) para ser atraente em si.

1bn para a ampliação do Rio-Zôo , incluindo as compensações pela área hoje ocupada por presídio , exército , etc, e um mergulhão substituindo a avenida Bartolomeu de Gusmão.

1bn para a reforma geral do Museu Nacional, incluindo a construção de grandes salões subterrâneos para a área de paleontologia, para a reserva e para estacionamento (as duas primeiras ligadas diretamente ao palácio da boa vista), e de um prédio pequeno para a área administrativa e letiva.

0.5bn para a criação do Museu da Intolerância, em São Cristóvão, focado na escravidão brasileira, mas com direito a exposições sobre outros horrores como o Holocausto, Ruanda, Bósnia, etc, sobre outras escravidões, inclusive as atuais ou as da Roma Antiga, sobre a Passagem Atlântica e sobre o racismo e preconceito étnico.

1bn para o Museu da África, na Gamboa, parte em moldes similares aoMuseu Afro-Brasil, mas com muito mais sobre a África propriamente dita.

1bn para um museu de transportes na Estação Barão de Mauá, da antiga Leopoldina.

2bn para os museus da praça Mauá. Um do mar, no píer, e um das Índias no prédio da Portus. Ao lado do museu do mar, no lado direito do píer, talvez fosse o caso de se construir uma marina. O museu do mar seria acima de tudo um museu de ciências, com todos os experimentos e informações tendo algo a ver com o mar, mas utilizando o tema para falar de processos físicos, de geologia, de biologia, etc. (E incluindo, claro, a forma como a pesca industrial está esvaziando o mar). O das Índias teria como tema central o império colonial português, e partiria daí pra contemplar a evolução das rotas de comércio no mundo, as trocas entre Brasil e África, as artes e sociedades do Oceano Índico, a construção das naus, de onde vieram as árvores das ruas do Rio de Janeiro...







2.5bn para enterrar as oficinas do metrô e as linhas de trem da Central do Brasil e da linha 2 até o ponto onde se separam os ramais norte e oeste, e construir um parque por cima, incluindo a reforma (com um grande teto de vidro sobre as plataformas) da Central, e a criação de uma estação de trêm e ônibus integrada (com o espaço de veículos enterrado) no lugar da atual (e vergonhosa) estação de São Cristóvão.

9.12.09

Il pleuvait sans cesse sur Magnitogorsk

Interessante que os primeiros a se manifestar em defesa dos latifundiários tenham sido deputados de um partido ex-comunista e outro que ainda se reinvindica como tal. Se os dois ainda tivessem alguma coisa de esquerdista, daria até pra fazer o paralelo com as catástrofes ambientais monumentais do Pacto de Varsóvia. Mas até que as críticas do Aldo foram amenas perto das dos outros defensores do latifúndio.

Impressionante é o tom de voz dos "produtores," que atingiu o ápice na ameaça de "currar" o Minc. Provando (como fez, logo quem, FH há já cinco décadas, sobre a escravidão) que o capitalismo em nada inibe o coronelismo, muito pelo contrário, e nem os neo-coronéis com ADRs na bolsa de Nova Iorque diferem em nada de importante dos velhos coronéis. OK, provando não, o que prova é o fato deles terem jagunços e escravos em suas fazendas, mas que é engraçado é.

OK, seria mais engraçado se não fosse o tamanho da influência deles. Como já disse e repito, o maior partido do Brasil não é o PMDB, nem o PT, nem o PSDB. É a bancada ruralista. Mais organizado, disciplinado, e ideologicamente coerente, também.

8.12.09

Os jornalistas e a matemática n

A Economist prova que não são só os jornalistas brasileiros que, às vezes, esquecem de fazer as contas apresentadas por suas fontes, além de deixar bem clara sua identificação com a elite branca. (Na África do Sul e no mundo.)

Fazendo as contas por eles: há 40.000 fazendeiros brancos na África do Sul. Houve 1.650 assassinatos no campo, a maioria de fazendeiros brancos, desde 1991. Vamos fingir que esse "a maioria" significa 1.100. Houve uns 60 assassinatos por ano. Não é exatamente a vendéia. A taxa, de 150/100.000p aa, é comparável às das grandes cidades sul-africanas; a média nacional é 60. Mas pera - e aí tá o segundo truque. 40.000 "fazendeiros," e 1.2000 assassinados "fazendeiros e familiares." O número 40.000 se refere ao número de paterfamiliae. O número real é 216.000 "fazendeiros e suas famílias."

Conclusão: o índice de assassinados entre os fazendeiros brancos e suas famílias é menor que a média do país. Alto ainda, sem dúvida. Mas longe do cataclisma que sites racistas querem apresentar - e que, tacitamente, a Economist engoliu.

5.12.09

Lasciate ogni speranza, voi ch'intrate

Já virou festa. A BBC entrevista o cara que entrou voluntariamente em Auschwitz. A diferença entre ele e o outro cara que fez a mesma coisa é que o polonês achava que se tratava de um campo de concentração, apenas - isto é, uma instalação de grande porte para prisioneiros. Denis Avey foi sabendo que estava entrando no inferno.

4.12.09

Núcleo duro

Matéria no Valor fala sobre o núcleo de pobreza que mais resiste tanto ao crescimento econômico quanto aos programas sociais existentes, formado pelas famílias chefiadas por mulheres pobres e jovens. Soa, quando você pensa no assunto, como uma constatação óbvia dentro das hierarquias e exigências da nossa sociedade; tanto que o fenômeno não é exclusivo do Brasil. Até na Suécia existe esse núcleo duro da pobreza. OK, lá a situação dele é diferente. Mas não deixa de ser marcada por carestia e violência. Aliás, um dos motivos pelos quais lá o problema é menor é exatamente algo que é pouco questionado hoje em dia: a condicionalidade dos benefícios sociais implantados, tão tarde, no Brasil.

Cue in o Suplicy e sua renda universal...


...A história de superação de Mislene, no entanto, ainda está no campo da ficção. Mãe de Mirela, de 2 anos, ela vive um drama bem real. A filha, cujo pai morreu no início do ano, tem problemas respiratórios crônicos, o que exige hospitalização frequente e atenção constante quando está em casa, na Vila Nhocuné, bairro da extremidade leste paulistana. "Ninguém quer contratar uma pessoa que é obrigada a faltar sempre. Estou desempregada e sem renda. Vivo dos mantimentos que minha mãe, que também está sem emprego e mora longe, me manda", desabafa.

Dramas como o de Mislene engrossam as estatísticas de um grave problema social no Brasil: cada vez mais a extrema pobreza se concentra em famílias chefiadas por mulheres com menos de 35 anos, responsáveis por crianças de menos de 6. São pessoas que permanecem em condições de indigência, apesar do crescimento econômico, da melhoria e expansão do mercado de trabalho e das políticas de transferência de renda. "São questões que os programas convencionais, como o Bolsa Família, não são capazes de resolver", diz o economista André Urani, sócio-fundador do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade (Iets).

Urani pôs uma lupa sobre dados das dez principais regiões metropolitanas do Brasil e constatou que a pobreza urbana é feminina. Em 1993 havia 6,3 milhões de pessoas em condições de extrema pobreza nessas regiões - 1,6 milhões delas viviam em famílias chefiadas por mulheres. Passados 15 anos, 3,5 milhões viviam em condições de extrema pobreza nessas mesmas áreas - 1,8 milhões em famílias chefiadas por mulheres. Ou seja, embora o total de pessoas com renda familiar per capita até R$ 104,00 tenha sido reduzido, essa diminuição não se verifica em famílias chefiadas por mulheres. Nesse período, apesar de o porcentual de pessoas que vivem na indigência ter caído 44% no Brasil metropolitano - Porto Alegre, Curitiba, São Paulo, Rio, Salvador, Distrito Federal, Recife, Fortaleza e Belém -, a queda não se refletiu nas condições de vida de quem vive em famílias chefiadas por mulheres.

O fenômeno registrado nas regiões metropolitanas, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra Domiciliar (Pnad) de 2008, se repete no Brasil como um todo, ainda que com menos intensidade. Em 1993, havia 32,4 milhões de pessoas em condições de extrema pobreza no país, das quais 5,5 milhões viviam em domicílios chefiados por mulheres. Passados 15 anos, havia 15,8 milhões de pessoas em condições de extrema pobreza, das quais 5,2 milhões viviam em famílias com mulheres no comando. Apenas 1,7% da redução da indigência no Brasil, portanto, se deu em famílias chefiadas por mulher. "Não somos capazes de enfrentar a extrema pobreza nessas famílias", afirma Urani.

Um dos problemas centrais para que a pobreza adquira o contorno feminino é que as mulheres chefes de família raramente são beneficiadas pelas melhorias no mercado de trabalho, uma consequência da combinação de fatores como falta de perspectiva de futuro, ausência de responsabilidade paterna para com os filhos, baixa escolaridade e falta de equipamentos públicos. "Há necessidade, por exemplo, de a creche ser universal e os serviços médicos serem acessíveis", diz Maria Salet Novellino, professora da Escola Nacional de Ciências Estatísticas e autora da pesquisa "Os Estudos sobre Feminilização da Pobreza e Políticas Públicas para Mulheres". "O trabalho da mulher está associado à família, e o Estado tem de apoiá-la para que ela deixe a criança num lugar público decente. A mulher falta ao trabalho, basicamente, porque o filho ficou doente."

Historicamente, famílias monoparentais - com apenas um adulto responsável -, em geral chefiadas por mulheres, são mais pobres por contar apenas com uma renda que, sendo de trabalho feminino, já é menor do que do trabalho masculino, avalia a economista Lena Lavinas, que realizou uma pesquisa sobre a ausência do público feminino entre os beneficiários do Bolsa Família. Ela identificou que mais da metade das pessoas que não recebem o benefício vivem em famílias chefiadas por mulheres, e 60% das pessoas que não recebem, mesmo sendo elegíveis, são mulheres chefes de família. Os dados foram coletados com 121 mil mulheres do Recife.

Mislene é elegível. Já havia solicitado os benefícios do Bolsa Família fazia seis anos, quando deu à luz Mailon Emanoel Esteves, que morreu ainda bebê. Não obteve o direito. Voltou a buscar informações quando Mirela nasceu. Foi à Regional da Penha, em São Paulo, onde a orientaram a esperar um profissional responsável pelo cadastramento do programa em sua casa. "Até hoje ele não veio. O que eu faço?", pergunta.

Lúcia Modesto, secretária nacional de Renda de Cidadania, área do Ministério do Desenvolvimento Social que coordena o Programa Bolsa Família, diz que trabalha com um novo objetivo para os dois próximos anos: alcançar 2 milhões de famílias, a maior parte nas áreas urbanas. Para isso, investe numa nova forma de fazer o cadastro, treinando profissionais que possam ir às ruas localizar e identificar possíveis beneficiários.

Para cadastrar 120 mil novas famílias, que serão mapeadas nas áreas mais precárias da cidade, a Prefeitura de São Paulo vai receber R$ 4 milhões. O mesmo esforço será feito no Rio e em todas as principais capitais do país, e a meta é identificar famílias que precisam de outros apoios além da transferência de renda.

A pobreza feminina, de fato, tem outros dilemas. A vizinha de Mislene, Rosely Lazzarini, de 32 anos, chegou a ter direito ao Bolsa Família, mas perdeu. Mãe de cinco filhos - Leonardo, 10, Lilian, 8, Luana, 6, Luiz Felipe, 4, e Leandro, 2 -, ela deixou de receber o benefício porque o filho mais velho não apresentou a frequência escolar exigida por duas vezes. "Sou separada e meu ex-marido não paga pensão. O Leonardo foi morar com ele e eu não tinha como vigiá-lo na escola", justifica. "Os que moram comigo raramente faltam."

Desempregada, Rosely diz que não tem condições de trabalhar por causa dos problemas de saúde da filha Lilian, que há um ano não se locomove e requer cuidado em tempo integral. "Ela tem problema nos ossos e está muito deprimida, por isso não tem vontade de estudar", conta.

Durante algum tempo Rosely vendeu batatas fritas na porta de sua casa, mas, para valer a pena, a matéria-prima tinha de ser adquirida a mais de 25 quilômetros de distância. O negócio ficou inviável. "Não tenho como abandonar tudo. Como batata pesa, e eu ia de ônibus ao parque D. Pedro [zona central de São Paulo] para comprar mais em conta, não dava para pegar mais do que um saco de 50 quilos por vez. Eram muitas viagens."

Adultos como Mislene e Rosely têm dificuldade de mobilidade porque, ao ser os únicos responsáveis por crianças tão novas, sem ter com quem deixar os filhos, acaba sendo impraticável até sair de casa, o que impede o atendimento pela rede social. "Falta um conjunto de políticas na rede de assistência social que resolva uma série de outros déficits, além da renda, que aparecem nas famílias monoparentais chefiadas por mulheres", observa Lena Lavinas, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). "Quanto mais a política focaliza em públicos específicos, menos alcança quem precisa. Por isso é preciso pensar em políticas universais", defende.

Ao impor mais exigências para o recebimento do benefício, diz Lena, menos o Estado garante benefício às pessoas que precisam dele. "Qualquer programa de inclusão da mulher no mercado deve ser bem equacionado. Não pode ser apenas um programa de renda. As regras do mercado não servem para mulheres com essas características", afirma Maria Salet Novellino.

3.12.09

Nunca antef na hiftória defte paíf...

A expressão já virou até a capa da Revista Ferroviária. Agora o anúncio é que, no período 2008-2010, a capacidade de processamento de computadores de grande porte no Brasil vai duodeplicar.



A Petrobras acaba de concluir o projeto Galileu, que consiste na instalação de um supercomputador com capacidade de 160 teraflops - o equivalente à realização de 160 trilhões de cálculos por segundo. O projeto envolveu uma parceria com cinco universidades e investimento de R$ 24,2 milhões. O supercomputador é o maior da América Latina e figura entre as 30 máquinas mais velozes do mundo, de acordo com um levantamento feito pela organização americana Top 500.

Essa "supermáquina", na verdade, é constituída por 3,3 mil processadores e mais de 13 mil servidores (computadores de grande porte) que operam em conjunto, o chamado cluster. Todo esse aparato está instalado em cinco instituições - Universidade Federal de Alagoas (Ufal), Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e Universidade de São Paulo (USP). A última etapa do projeto foi concluída nesta semana, com o início das operações do sistema na USP, que recebeu investimento de R$ 10 milhões.

...

A conclusão do projeto Galileu exemplifica o rápido avanço dos equipamentos de alto desempenho (conhecidos como HPC ou High Performance Computing). Antes desse projeto, a Petrobras já havia lançado um supercomputador no Brasil. No ano passado, com investimento de R$ 5,8 milhões, a estatal criou o Netuno, instalado no Núcleo de Computação Eletrônica (NCE) da UFRJ, que possui uma capacidade de 16 teraflops e é composto por 256 servidores.

Juntos, o projeto Galileu e o Netuno vão ajudar a compor a Grade BR, composta por cerca de 14 mil núcleos de processamento e uma capacidade total de 200 teraflops. Essa rede fornecerá infraestrutura computacional suficiente para que 300 pesquisadores das universidades envolvidas desenvolvam novos programas e simuladores para os trabalhos de pesquisa e perfuração de poços do pré-sal.

No ano passado, o Brasil dispunha de dois supercomputadores de alto desempenho, mas apenas o Netuno entrou no ranking elaborado pela Top 500. A USP também já operava um supercomputador com capacidade de 3,6 teraflops, que chegou a ser elencado em edições anteriores do estudo da Top 500.

Neste ano, em setembro, a Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho" (Unesp) iniciou o uso do seu GridUnesp, de 33,3 teraflops, e que recebeu investimento de R$ 3,6 milhões. O cluster está distribuído em uma rede que integra 2.944 unidades de processamento, distribuídas em sete polos de acesso, nos campi de São Paulo, Araraquara, Bauru, Botucatu, Ilha Solteira, Rio Claro e São José do Rio Preto.

Até janeiro, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) também prevê concluir o processo de licitação para aquisição de um supercomputador de 15 teraflops. A proposta de licitação foi anunciada no ano passado e prevê um orçamento de R$ 50 milhões, dos quais R$ 35 milhões serão investidos pela Financiadora de Estudos e Projetos (Finep). Outros R$ 15 milhões virão da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), informou o Inpe. Quando concluído, esse cluster constituirá um dos seis maiores centros mundiais de previsão numérica de tempo e clima e de modelagem de mudanças climáticas.