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15.4.10

Minas e energia

Em geral, a se julgar pela necessidade de cavar escândalos de cinco anos atrás evidenciada pela imprensa, o governo Lula parece ser menos corrupto stricto sensu do que seu antecessor. Lato sensu, também parece ser menos obediente aos grupos privados, apesar das agências reguladoras (todas, praticamente, inteiramente capturadas pelos interesses de seus regulados). A grande exceção a isso é no caso das grandes obras de infraestrutura.

Dois exemplos flagrantes, ambos na pauta esta semana por conta do ministério público de de protestos de ambientalistas, são a hidrelétrica de Belo Monte e o porto de Ilhéus (com ferrovia correspondente). Não que haja corrupção propriamente dita em nenhum dos dois (que se saiba), mas que ambos são projetos que só se justificam em nomes de interesses de grandes corporações, na melhor linha de pensamento "o que é bom para a GM é bom para os EUA."

Belo Monte, por exemplo, não é econômica. Vai gerar de energia firme, pouco mais de 4Gw - 30% mais do que uma das usinas do Madeira, a um custo 200% maior. E com o mesmo problema daquelas, que é a perda de quase metade da energia ao longo dos milhares de quilômetros separando elas do consumidor - ou seja, pode dobrar de novo esse custo, comparando com uma usina eólica no Ceará ou em Minas, ou uma termelétrica. Para que alguém ainda se interesse por construí-la, o governo teve que armar um pacote de bondades enorme que, na prática, significa que nós vamos pagar por essa energia, e a fundo perdido, e o consórcio construtor entra só com o lucro. Em termos ambientais, além da destruição de um ambiente único que é a Volta Grande do Xingu, tem que se levar em consideração, novamente, os linhões, e a migração que a mera notícia da usina já tem causado. Isso tudo sem nem levar em conta o caráter boi-de-piranha de Belo Monte, projetada para ser a última de uma cascata de hidrelétricas no Xingu.

Em Ilhéus, por outro lado, está se falando de construir um porto offshore enorme e caro, com ferrovia acompanhando, basicamente para atender aos interesses da Brasil Mineração. Que empresários privados façam isso, como o Eike Batista no seu porto de Açu, tudo bem (desde que não o façam, como no caso do Eike, desrespeitando a legislação ambiental e de portos, com vista grossa do INEA-RJ e da ANTAQ). E, como mostra o Eike, é um negócio que pode perfeitamente ter lucro com eles mesmos investindo. Por que diabos ao invés disso será o governo a arcar com os investimentos?

Isso tudo é o que me leva a pensar até em votar, no primeiro turno, na Marina Silva, apesar dela aparentar ter ficado maluca ("PV apóia Obama"??), ser criacionista e homofóbica. Só porque a tecla única em que ela bate parece ser justamente o lado em que mais seria necessário segurar a Dilma. Votar contra a Dilma no segundo turno, no Serra aliado da Kátia Abreu, sinceramente, ninguém que tenha o mínimo de preocupação com meio ambiente, índios, quilombolas, sem-terra, ou trabalhadores escravos pode fazer. Kátia Abreu é explicitamente contra a lista toda. Mesmo. Sério

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