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5.5.10

There is no alternative

A frase acima é de Margareth Thatcher e condensa bem o argumento dos que defendiam o que se lhe seguiria, em termos de política econômica, nos próximos trinta anos até a crise econômica de 2008. Disse até a crise econômica? O pacote imposto à Grécia ainda partilha dessa visão, e com a mesma declaração arrogante.

Entretanto, em terras da Índia Jaci, a posição do governo federal e de outros proponentes da construção da barragem de Belo Monte - que, como já disse aqui, não é só um problemão ambiental, mas também de economicidade duvidosa - segue o mesmo argumento. Alternativas são descartadas como obviamente impraticáveis. Ora, isso é curioso, porque alternativas, inclusive mais econômicas, foram detalhadas num relatório da UNICAMP e do WWF em 2004, já atualizado. Ponho o link em inglês porque o link em português tá quebrado.

Enquanto isso, o Plano Decenal de Energia, da Empresa de Pesquisa Energética, órgão do governo responsável pelo nosso planejamento energético, é tão transparentemente uma peça de lobby pró-hidrelétricas que A) ignora solenemente o custo, de investimento e manutenção, envolvido nas hidrelétricas amazônicas propostas, e faz a conta delas pela capacidade máxima, ignorando a sazonalidade, e B) alega que "não está prevista a construção de novas termelétricas fósseis, mas se não permitirem as hidrelétricas na Amazônia..." Capisce? Bela loja a sua, signore, bela loja.

Duas curiosidades saindo de nossos domínios paroquiais, e tendo a ver com hidrelétricas gigantes e perdas na transmissão:

A) As grandes planícies americanas são chamadas pelos ativistas ambientais gringos (e pelos empresários do setor) de "Arábia Saudita do vento." Isso é meia verdade, justamente por conta das perdas na transmissão. Com a exceção das franjas(especialmente no Texas), a área dessa Arábia é um semiárido frio e esparsamente povoado, e a combinação da baixa capacidade* e confiabilidade de usinas eólicas com a necessidade de enormes linhas de transmissão dedicadas não é muito atraente. Nesse aspecto, o Brasil, apesar do potencial eólico econômico ser relativamente menor (uns 39GW, ou quase três Itaipús), está mais bem situado, já que as áreas de bons ventos se constituem de núcleos pequenos próximos aos centros de demanda no Sul-Sudeste, uma franja marítima próxima de centros de demanda e distante de outras fontes no Nordeste, e o Vale do São Francisco acompanhando o linhão que liga NE e SE; ou seja, praticamente não há necessidade de construção de linhas de transmissão, e muito pouca perda de energia.

B) Acha que Belo Monte é grande? Com características semelhantes (turbinas fora da barragem principal, aproveitamento em curva, barragem a fio d'água) à represa amazônica, querem represar o Congo. Pra situar as coisas, o Congo é o segundo maior rio do mundo (OK, terceiro, se você contar o Rio Negro), umas três ou quatro vezes maior do que o Paraná, onde se encontra Itaipú. A barragem geraria uns 40GW de energia elétrica, ou se preferir oito vezes o consumo atual de energia do Congo, sem contar os 12GW adicionais das barragens subsidiárias. Como a maioria das megaobras de infraestrutura, Grand Inga busca uma raison d'etre que justifique investir 80bn de dólares (subsidiados pelo Banco Mundial, chamados de ajuda externa, e provavelmente com grana arrancada ao periclitante governo congolês, além dos governos dos investidores, claro). Uma das mais alucinadas envolve a implantação de linhas de transmissão entre o Congo e a Europa.

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