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11.3.11

Estocolmo 2 - a revanche

Há um tempo atrás, comentei aqui de como extremistas de direita têm a capacidade de manter reféns os políticos de centro-direita. A fórmula, evidentemente, é aplicável na outra mão do espectro político, se houvesse alguma proposta de extrema-esquerda com a combinação de apoio popular e irrelevância para interesses econômicos das de extrema-direita, mas não há, até quase por definição.

O curioso é que neste artigo da Al Qaida, digo da Al Jazeera, dá pra subentender uma situação em que, por sua vez, os políticos de centro-esquerda mantém reféns os eleitores de esquerda em geral. No caso, é o Obama mandando torturar alguém que denunciou crimes de guerra, mas poderia ser o Blair indo à guerra, a Dilma falando em privatização branca do sistema de saúde, ou qualquer outro governante "de esquerda" tomando medidas identificadas com a direita. A equação política é relativamente simples, e bastante razoável de um ponto de vista maquiavélico: você por acaso imagina os republicanos, tories, ou tucanosfazendo diferente? Diferente pro lado esquerdo da coisa?

Com isso, temos uma situação que, aparentemente inescapavelmente, cria uma dupla sinuca. Por um lado, os políticos de direita são reféns da extrema direita; por outro, os políticos de esquerda, sabendo que a esquerda é refém deles, buscam votos ao centro com políticas de direita, o que por sua vez torna os políticos de direita ainda mais reféns da extrema direita... E assim vai sendo minada a democracia, dentro do mais perfeito funcionamento da democracia formal e com farta e entusiástica ajuda da plutocracia que sempre conviveu com ela, através de campanhas de mídia mais ou menos conscientes.

Em vários países, a "solução" para essa sinuca tem sido a rua, com protestos de grande porte. O problema é que, aparentemente, esses protestos não têm o condão de afetar significativamente as coisas em países mais estáveis, como os exemplos da França (sempre) e do Winsconsin (agora) deixam claro. Mesmo na Bolívia e na Argentina, onde deram certo, o campo de manobra posterior dos governantes não tem sido tão livre quanto se esperava, até porque nos países menos estáveis é justamente onde a plutocracia tem mais força. Mesmo no caso - único - da Venezuela, em que a imensa dinheirama do petróleo deveria ter ajudado, os resultados sociais pífios (menos intensos do que no Brasil de Lula) de uma década de governo "socialista" não podem ser atribuídos apenas a falhas pessoais de Hugo Chávez.

A solução para esse conjunto de sinucas de bico pós-industriais? Não tenho a menor idéia. Vai ver os árabes encontram uma, se finalmente virarem democracias (eu pelo menos me disponho a aguentar o terceiro choque do petróleo se Muamar Kadafi e sua santa majestade Abdullah bin Abdul-Aziz bin Abdul-Rahman bin Faisal bin Turki bin Abdullah bin Muhammad bin Saud, guardião da Terra Santa, passarem a ver o sol nascer quadrado).

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