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25.5.11

Batata batatófona

A expressão brasileira para língua presa e dialetos que soam como se fossem resultado de língua presa é "falar como se tem um ovo na boca." Em outras terras, substituem o ovo por uma batata. Curiosamente apropriado, já que o ministro Palocci, que tem língua presa, virou mais uma vez uma grande batata quente. A pergunta que fica é: por que diabos Dilma, que é acusada de competente por amigos e adversários, escolheu uma batata quente dessas para ministro-chefe da casa civil? Não é só o cargo mais importante no governo depois do presidente: é também um cargo do qual Lula teve que demitir uma ocupante, amiga de Dilma, por deslizes éticos.

Será que Dilma acreditou nas análises pós-eleição que lhe davam uma maioria sólida no Congresso, o que permitiria encampar um Palocci impopular? Se sim, é muito mais ingênua do que eu imaginava. Como o demonstrou a votação do código florestal, o PMDB é um aliado pouco confiável, e o próprio PT não é tão unido assim; do restante dos aliados de direita e do PC do B nem se fala. A imensa maioria da base aliada votou contra um governo que mal passou dos cem dias no Planalto.

182 votos. Esse é o total que o governo teve a seu lado, não contra o texto-base relatado por Aldo Rebelo, mas contra a emenda estúpida que anistia os desmatadores. Retire-se os 12 deputados do PV e mais meia dúzia de oposicionistas que também votaram "não," e temos o real tamanho da gigantesca base do governo: uns 160, 170 deputados. O PMDB, desde Lula, é menos cooptado para o governo do que "neutralizado." O acordo é para que ele não seja de oposição, não para que seja um aliado; o mesmo se dá quanto aos demais partidos de direita que teoricamente formam a base do governo. Não dá pra achar que esse povo defenderia a batata quente Palocífera, ao invés de usá-la como chantagem (como o fez o Garotinho) sem ser muito ingênuo.

Também não dá, sem muita ingenuidade de quem lê Míriam Leitão, para acreditar na necessidade de Palocci como "garantidor" do governo junto à banca internacional. O Brasil hoje não sofre de problemas de fuga de investimento e dólares, como quando Henrique Meirelles foi utilizado nessa função, antes pelo contrário. Uma fugazinha de dólares até ia bem.

Fica a pergunta no ar então: por que logo o Palocci? De que a Dilma é menos competente que o Lula eu nunca tive dúvida (ao contrário da classe média e imprensa que nunca engoliram o torneiro mecânico e retirante), mas nunca pensei que ela chegasse a ser incompetente mesmo.

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