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13.6.11

A vestal ciência

É comum, quando falamos em ciência que hoje foi desacreditada, apormos o prefixo "pseudo." Assim, o racismo científico, a criminalística lombrosiana, o darwinismo social, o flogisto, as investigações paranormais soviéticas, a eugenia seriam "pseudociências," e não ciência de verdade. E estaria preservada a verdadeira, a legítima, a pura ciência. Ora, como exatamente, afora o fato de serem teorias descartadas, se pode diferenciar a ciência da pseudociência? De um ponto de vista epistemológico, parece difícil. Ninguém chama o que Lamarck fazia, por mais que estivesse errado, de pseudociência; ninguém deixa de denunciar o trabalho de Gobineau como tal. Mas Lamarck e Gobineau ambos tinham noções acerca das ciências biológicas que eram amplamente aceitas em seus respectivos tempos, e que foram pouco após amplamente rejeitadas, não sem grandes disputas dentro e fora da academia, e importantes consequências políticas.

O motivo para a nomenclatura parece ser, antes, a noção de que a ciência é, em si e de si, algo bom e que não abriga (por definição) em si o erro moralmente condenável, como se ter sido parte de atrocidades condenasse a ciência como um todo. É, de certa forma, a mesma noção, mas do outro lado da torcida, que os criacionistas manipulam quando tentam desacreditar a teoria da evolução associando-a ao racismo científico. E, claro, é profundamente problemática, para além da questão racional e filosófica, politicamente. Porque implica em acreditar que a ciência não pode falhar - e dificulta a que enfrentemos ela quando falha. O racismo científico, por exemplo, ainda deveria ser combatido por uma questão moral mesmo que suas bases científicas fossem corretas oras pinóias.

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