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16.9.11

Dano colateral

Muita gente, eu incluído, chama o novo código florestal, elaborado pelo "comunista" Aldo Rebelo e pela bancada ruralista, de "código desflorestal," como se a bancada ruralista fosse uma versão do TEA americano, cegamente ideológica e antiambientalista. Besteira. A bancada ruralista é 100% pragmática, não é o Xico Graziano (ex-secretário do meio ambiente de São Paulo, na gestão Serra, e antiambientalista de verdade). Um exemplo disso é a provisão que manda que todas as áreas de APP de represas hidrelétricas sejam desapropriadas e prontamente adquiridas pela concessionária. A medida é obviamente uma boa idéia do ponto de vista ambiental, porque significa mais segurança contra o desmatamento numa APP; mas ela está lá, na verdade, porque as concessionárias hoje "mandam" em áreas pertencentes a fazendeiros (fiscalizando para que a lei seja cumprida, em interesse próprio de preservação do lago), e com essa lei, que é retroativa, passariam a ter que pagar por isso. A estimativa de transferência de dinheiro entre os setores elétrico e agropecuário é de uns 30 bilhões pra cima.

A constatação, bem entendido, não deve ser considerada encorajadora por ninguém. Se apenas de histeria conservadora se tratasse, os interesses econômicos das grandes empresas poderiam pôr um freio no desmatamento induzido pelo código florestal novo, ou mesmo pesar contra ele no Congresso. Já que o desmatamento é interesse econômico real, só resta contra ele o Estado mesmo. Não precisa rir - além do desmatamento cadente na Amazônia desde 2005, o desmatamento no Cerrado caiu este ano. E por isso mesmo o novo código florestal é tão importante.

15.9.11

Crise? Que bonança?

O gráfico abaixo mostra a evolução da renda familiar nos EUA, para três grupos: os 10% mais ricos, os 10% mais pobres, e a mediana. Reparem nas diferenças pequenas da evolução: para o americano médio, a "exuberância irracional" da economia americana nos anos 90 quase não fez diferença.

Liberal sólido

...sou eu, segundo a tipologia política do Pew Center. Desisti de fazer alguma piadinha pornográfica. Segundo a Pew, os liberais sólidos (heh heh) são


•Highly politically engaged
•75% are Democrats
•Concentrated in the Northeast and West
•57% are female
•Best educated of the groups: 49% hold at least a bachelor's degree and 27% have post-graduate experience
•A third regularly listen to NPR, about two-in-ten regularly watch The Daily Show and read The New York Times
•59% have a passport
•42% regularly buy organic foods
•21% are first or second generation Americans


PS na pesquisa, mais de dois terços dos "libertarians" são homens; é de longe o grupo com menos mulheres. Quelle surprise...

14.9.11

País do chá

Uma das coisas que sempre me surpreendem no debate público brasileiro é a quase total ausência de propostas de aumento de impostos nele. Pelo contrário, parece que todos interiorizaram o discurso do (desonesto grupo de lobby de tributaristas) IPT e seu impostômetro, e exorcizam a malfadada carga tributária. Mas quando se fala em diminuir o déficit fiscal, ninguém fala em aumentar impostos, só em cortar custos. Quando se fala em aumentar as possibilidades de ação do governo, ninguém fala em aumentar impostos para fazer isso. Mesmo quando se fala em aumentar impostos, é na ficção de uma "CPMF," um imposto que seja invisível e carimbado. Ora, a "classe média" brasileira, isto é, os 20% mais ricos, ainda pode sustentar um bom aumento de imposto (que não seja para pagar a mesma coisa que os outros quintis de renda). Não vou me estender sobre isso porque clicando na tag "impostos" aí embaixo vai ter um monte de posts sobre o assunto. E tanto a direita (que se reinvindica fiscalmente responsável) quanto a esquerda (que quer aumento da presença do estado e abatimento dos juros) teriam todo o interesse em aumentar esses impostos. Até a indústria teria esse interesse - zerar o déficit público significaria um abatimento rápido da taxa de juros.

Em outras palavras, os partidos brasileiros, todos, repetem o mantra do TEA party americano. Não aumentar os impostos. OK, alguns até falam - mas são sempre impostos que acham que não caem em ninguém, seja pela sua invisibilidade (CPMF) ou por atingirem apenas meia dúzia de pessoas míticas ("imposto sobre grandes fortunas"). IRPF a níveis americanos pós-Bush (44% de alíquota máxima, dependendo do estado) que é bom, necas. O que é mais curioso ainda num momento em que, internacionalmente (e curiosamente) você tem um monte de bilionários pedindo para pagar mais imposto, como o Bill Gates, o Warren Buffet e o Luca di Montezemolo, dono da Ferrari. Então por que diabos nem o PSoL fala em aumento do IRPF, e entra na prática no discurso da classe média sofrida?

(Aliás, podiam aproveitar a revisão do IRPF para eliminar o financiamento público de saúde e educação privadas para a classe média. Tem dependente? Teu desconto é x. Pronto. Se você quer fazer plano de saúde é problema seu.)

5.9.11

Antiracismo, ontem e hoje

Para mostrar como nem tudo são espinhos, e graças à maravilha que é a Openlibrary, reproduzo aqui alguns trechos da contribuição feita pelo representante brasileiro ao Congresso Universal das Raças, um encontro antiracista que celebrou 100 anos em 26 de Julho, "O mestiço, ou híbrido brasileiro." O sujeito, João Batista Lacerda, diretor do Museu Nacional, assina o texto para o congresso como Jean Baptiste de Lacerda.




...devemos estabelecer o questionamento sobre se brancos e negros representam duas raças, ou duas espécies distintas. (Ele responde que são raças.)

Apesar de não se poder chamar o mestiço de modelo de beleza, seja na figura ou no contorno, é forçoso reconhecer, especialmente no sexo feminino, tipos de formas graciosas e bem-proporcionadas.