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6.10.11

Manifesto pela corrupção e contra a ordem

Ou melhor, contra o soi-disant movimento contra a corrupção. Veja bem, não é que eu seja a favor da corrupção - ninguém, creio, nem sequer os corruptos, é a favor da corrupção. Sim, nem os corruptos, porque ninguém se considera vilão. Quem paga a cervejinha do guarda para não levar multa não acha que cometeu corrupção ativa, acha que foi extorquido. E do mesmo jeito, tenho certeza de que Gabeira (contrata com verba pública a namorada) e Pedro Simon (emprega metade da família) não consideram seus "pecadilhos" corrupção, como aquela, vaga e nebulosa, contra a qual lutam à frente desse movimento. Mas não me confundam - não é porque gente corrupta está envolvida que desdenho do movimento contra a corrupção, mas justamente pelo fato de ninguém ser a favor da corrupção.

Um movimento político é uma mensagem; se essa mensagem é algo que já é universalmente aceito, ela é desnecessária, redundante. Ser a favor da paz, ou contra a corrupção, a rigor não significa nada, a não ser que haja alguém contra elas. Ser a favor da paz significando com isso que se é contra a militarização da polícia, ou o envio de tropas além-mar, quer dizer algo. Do mesmo modo, ser contra a corrupção talvez fizesse sentido se a mensagem por trás do slogan fosse "não aceitar políticos envolvidos em casos de corrupção" - mas aí entra-se no problema do ACM Neto fazer parte do movimento contra a corrupção. No fim das contas, chega-se à conclusão que o movimento faz apenas parte da estratégia política habitual de, não tendo-se plataforma ideológica nenhuma de governo (ou, como no caso do PSDB, nenhuma que creia-se palatável aos eleitores), acusa-se o outro de malfeitos e ganha-se no grito, com ajuda da imprensa. Uma coisa meio Jornalismo no Tennessee. Ou, para ficar numa referência mais tupiniquim, UDN.

Agora, para ser inteiramente sincero: mesmo que o movimento realmente fosse algo sério contra a corrupção, eu pararia de rir dele, mas não seria algo em com que me empolgasse muito, não. Isso porque a corrupção como problema é muito superestimada, até pela conveniência. Falando-se da corrupção, elide-se tratar de algum problema que seja, este sim, político e sujeito a ser combatido através de uma solução política. Todos somos contra a corrupção, esqueça que eu sou a favor das privatizações, por exemplo. Se acabássemos com a corrupção, haveria dinheiro para fazer tudo sem precisar aumentar impostos. Etc. E nem a corrupção ou falta dela são bons indicadores para o nível de bem estar de um país. Olhe o mapa do índice de corrupção percebida da Transparency International. Com Berlusconi e tudo, acho difícil dizer que a Itália está pior do que a Polônia de vida. A França do que o Chile. Israel do que o Uruguai. O Reino Unido do que a Irlanda. Resumir a luta política à corrupção é deixar a ideologia dos que já mandam sem a democracia comer solta.

Um caso flagrante de como a corrupção oculta o problema real, no Brasil, é a questão da lei e ordem, ou melhor, antes da ordem do que da lei. Os agentes do monopólio estatal da violência, muitos deles ainda imbricados nas forças armadas por teias de relacionamentos, mesmo na PF e nas PCs, que ao contrário das PMs e dos bombeiros não levam "militar" no nome, vêem sua tarefa como antes a manutenção da "ordem" (tradicional e consuetudinária - e portanto com todos os problemas e preconceitos da ordem tradicional, hierárquica) do que a aplicação da lei. É esse o grande problema desses órgãos, e não a corrupção, sempre levantada quando se fala da polícia, por exemplo. O policial que faz parte de um grupo de extermínio está cometendo um crime, segundo a lei escrita, mas fazendo algo necessário e meritório, pelas suas luzes. Com isso, a latitude para a mudança social a partir de legislação, a partir de cima, se vê severamente restrita, o que é um problema sério para qualquer governo que pretenda melhorar isso. E, portanto, um problema grave para qualquer grupo ativista - mudar a lei é rlativamente fácil, comparado com mudar a mentalidade de um grupo que por definição se vê como guardião de uma ordem quase - na visão deles - transcedental, e portanto imutável.

Um comentário:

Cumpanhêro disse...

Isso mesmo. Tá todo mundo roubando mesmo, para quê fazer onda? E, o Sarney é honesto, tá?