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14.9.11

País do chá

Uma das coisas que sempre me surpreendem no debate público brasileiro é a quase total ausência de propostas de aumento de impostos nele. Pelo contrário, parece que todos interiorizaram o discurso do (desonesto grupo de lobby de tributaristas) IPT e seu impostômetro, e exorcizam a malfadada carga tributária. Mas quando se fala em diminuir o déficit fiscal, ninguém fala em aumentar impostos, só em cortar custos. Quando se fala em aumentar as possibilidades de ação do governo, ninguém fala em aumentar impostos para fazer isso. Mesmo quando se fala em aumentar impostos, é na ficção de uma "CPMF," um imposto que seja invisível e carimbado. Ora, a "classe média" brasileira, isto é, os 20% mais ricos, ainda pode sustentar um bom aumento de imposto (que não seja para pagar a mesma coisa que os outros quintis de renda). Não vou me estender sobre isso porque clicando na tag "impostos" aí embaixo vai ter um monte de posts sobre o assunto. E tanto a direita (que se reinvindica fiscalmente responsável) quanto a esquerda (que quer aumento da presença do estado e abatimento dos juros) teriam todo o interesse em aumentar esses impostos. Até a indústria teria esse interesse - zerar o déficit público significaria um abatimento rápido da taxa de juros.

Em outras palavras, os partidos brasileiros, todos, repetem o mantra do TEA party americano. Não aumentar os impostos. OK, alguns até falam - mas são sempre impostos que acham que não caem em ninguém, seja pela sua invisibilidade (CPMF) ou por atingirem apenas meia dúzia de pessoas míticas ("imposto sobre grandes fortunas"). IRPF a níveis americanos pós-Bush (44% de alíquota máxima, dependendo do estado) que é bom, necas. O que é mais curioso ainda num momento em que, internacionalmente (e curiosamente) você tem um monte de bilionários pedindo para pagar mais imposto, como o Bill Gates, o Warren Buffet e o Luca di Montezemolo, dono da Ferrari. Então por que diabos nem o PSoL fala em aumento do IRPF, e entra na prática no discurso da classe média sofrida?

(Aliás, podiam aproveitar a revisão do IRPF para eliminar o financiamento público de saúde e educação privadas para a classe média. Tem dependente? Teu desconto é x. Pronto. Se você quer fazer plano de saúde é problema seu.)

2 comentários:

Marcus Pessoa disse...

Concordei até com as vírgulas.

Biúnil disse...

Bem vindo de volta, Thuin! \o/