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13.10.11

Dark Satanic Mills

Participação percentual na indústria de transformação, 2008

São Paulo 43,7
Minas Gerais 10,7
Rio Grande do Sul 8
Rio de Janeiro 6,7
Paraná 6,3
Santa Catarina 5,8
Bahia 3,2
Amazonas 2,7
Goiás 2,1
Pernambuco 1,6
Espírito Santo 1,6
Ceará 1,5
Pará 1,3

10.10.11

Quanto vale ou é por quilo

Portos de armação do tráfico de escravos, por total de escravos transportados, 1501-1870

(mil escravos)

Rio de Janeiro 1499
Salvador 1360
Liverpool 1337
Londres 829
Bristol 564
Nantes 542
"Pernambuco," sem cidade específica 437
Lisboa 334
Havana 249
La Rochelle 165
Texel 164
Le Havre 142
Bordéus 134
Vlissingen 123
Zeeland 94
"Rhode Island 73" sem cidade especificada
Saint Malo 73
Barbados 58
Cadiz 53
San Lucar 51
Lorient 50
Honfleur 37
Nova Iorque 35
Charleston 35
Amsterdam 33
Rotterdam 31
Cabo Verde 4
Luanda 4

Total, incluindo os muitos portos não listados, 9000
http://www.slavevoyages.org/tast/database/search.faces

6.10.11

Feijão do sr. Burns

Não tem muito o que acrescentar ao texto: a CTNBio aprovou sem estudo digno do nome um feijão transgênico para consumo humano.

Manifesto pela corrupção e contra a ordem

Ou melhor, contra o soi-disant movimento contra a corrupção. Veja bem, não é que eu seja a favor da corrupção - ninguém, creio, nem sequer os corruptos, é a favor da corrupção. Sim, nem os corruptos, porque ninguém se considera vilão. Quem paga a cervejinha do guarda para não levar multa não acha que cometeu corrupção ativa, acha que foi extorquido. E do mesmo jeito, tenho certeza de que Gabeira (contrata com verba pública a namorada) e Pedro Simon (emprega metade da família) não consideram seus "pecadilhos" corrupção, como aquela, vaga e nebulosa, contra a qual lutam à frente desse movimento. Mas não me confundam - não é porque gente corrupta está envolvida que desdenho do movimento contra a corrupção, mas justamente pelo fato de ninguém ser a favor da corrupção.

Um movimento político é uma mensagem; se essa mensagem é algo que já é universalmente aceito, ela é desnecessária, redundante. Ser a favor da paz, ou contra a corrupção, a rigor não significa nada, a não ser que haja alguém contra elas. Ser a favor da paz significando com isso que se é contra a militarização da polícia, ou o envio de tropas além-mar, quer dizer algo. Do mesmo modo, ser contra a corrupção talvez fizesse sentido se a mensagem por trás do slogan fosse "não aceitar políticos envolvidos em casos de corrupção" - mas aí entra-se no problema do ACM Neto fazer parte do movimento contra a corrupção. No fim das contas, chega-se à conclusão que o movimento faz apenas parte da estratégia política habitual de, não tendo-se plataforma ideológica nenhuma de governo (ou, como no caso do PSDB, nenhuma que creia-se palatável aos eleitores), acusa-se o outro de malfeitos e ganha-se no grito, com ajuda da imprensa. Uma coisa meio Jornalismo no Tennessee. Ou, para ficar numa referência mais tupiniquim, UDN.

Agora, para ser inteiramente sincero: mesmo que o movimento realmente fosse algo sério contra a corrupção, eu pararia de rir dele, mas não seria algo em com que me empolgasse muito, não. Isso porque a corrupção como problema é muito superestimada, até pela conveniência. Falando-se da corrupção, elide-se tratar de algum problema que seja, este sim, político e sujeito a ser combatido através de uma solução política. Todos somos contra a corrupção, esqueça que eu sou a favor das privatizações, por exemplo. Se acabássemos com a corrupção, haveria dinheiro para fazer tudo sem precisar aumentar impostos. Etc. E nem a corrupção ou falta dela são bons indicadores para o nível de bem estar de um país. Olhe o mapa do índice de corrupção percebida da Transparency International. Com Berlusconi e tudo, acho difícil dizer que a Itália está pior do que a Polônia de vida. A França do que o Chile. Israel do que o Uruguai. O Reino Unido do que a Irlanda. Resumir a luta política à corrupção é deixar a ideologia dos que já mandam sem a democracia comer solta.

Um caso flagrante de como a corrupção oculta o problema real, no Brasil, é a questão da lei e ordem, ou melhor, antes da ordem do que da lei. Os agentes do monopólio estatal da violência, muitos deles ainda imbricados nas forças armadas por teias de relacionamentos, mesmo na PF e nas PCs, que ao contrário das PMs e dos bombeiros não levam "militar" no nome, vêem sua tarefa como antes a manutenção da "ordem" (tradicional e consuetudinária - e portanto com todos os problemas e preconceitos da ordem tradicional, hierárquica) do que a aplicação da lei. É esse o grande problema desses órgãos, e não a corrupção, sempre levantada quando se fala da polícia, por exemplo. O policial que faz parte de um grupo de extermínio está cometendo um crime, segundo a lei escrita, mas fazendo algo necessário e meritório, pelas suas luzes. Com isso, a latitude para a mudança social a partir de legislação, a partir de cima, se vê severamente restrita, o que é um problema sério para qualquer governo que pretenda melhorar isso. E, portanto, um problema grave para qualquer grupo ativista - mudar a lei é rlativamente fácil, comparado com mudar a mentalidade de um grupo que por definição se vê como guardião de uma ordem quase - na visão deles - transcedental, e portanto imutável.

4.10.11

DMZ do bem

Da série: propostas do meu partido inelegível, ou, como combinar posts anteriores bem distintos.

O aquecimento global vai afetar o Brasil bem mais do que países de zonas frias, motivo pelo qual é do interesse do país fazer o máximo (por si só e pelo exemplo) para evitar emissões de efeito estufa. A terra de Santa Cruz já tem uma matriz de geração de energia elétrica relativamente limpa, e planos de aumentar essa geração limpa, principalmente via mais hidrelétricas e acessoriamente com eólicas e usinas térmicas a biomassa. Só tem um probleminha...é que um dos problemas que o Brasil vai enfrentar com o aquecimento global é justamente a diminuição da vazão dos rios, principalmente os amazônicos, e da energia dos ventos fora do litoral do nordeste. Uma hidrelétrica que gera 3GW hoje, em 2100 não vai gerar mais de 2,3GW. Um parque eólico no Rio Grande do Sul pode sofrer mais ainda, até 3/4 de perda. Não, não tem alternativa redentora que vá surgir para compensar isso.

A solução da Empresa de Pesquisa Energética e das grandes empreiteiras é óbvia: fazer o máximo possível de hidrelétricas, até que cada desnível da Amazônia esteja aproveitado. E, presume-se, não reste uma castanheira, uma sumaúma que seja, e os índios todos tenham se mudado para favelas em Manaus. Não sei, não sei - talvez não seja a melhor solução possível. De qualquer jeito, considerações humanitárias à parte, com a diminuição da vazão dos rios, tais hidrelétricas se tornam cada vez menos atraentes do ponto de vista econômico.

Agora vem a solução maluca: O primeiro "lugar estranho do mundo" da série que volta e meia aparece neste blog foi a Zona Desmilitarizada entre as duas coréias, na qual o medo humano serviu de proteção melhor do que qualquer desvelo para com a vida selvagem. Do mesmo modo, a área de proteção de Chernobyl, criada após o acidente, se tornou hoje uma área de natureza exuberante. Por outro lado, se você olha um mapa das unidades de conservação no Brasil, vai notar que enquanto na Amazônia há grandes parques naturais, do tamanho de alguns estados menores, no resto do país os parques são tão pequenos que são assinalados por bolinhas ao invés de representados graficamente.

Então que tal, para suprir as necessidades brasileiras de energia limpa, matar dois coelhos com uma caixa d'água só, e instalar usinas nucleares nas regiões sudeste e nordeste, ao lado de parques naturais existentes e no centro de parques naturais maiores a serem criados e eventualmente implantados? A presença da usina nuclear ajudaria a convencer muita gente a vender barato a terra para o governo (ou a concessionária, que teria responsabilidade pelo parque, se fosse o caso), e o parque serviria de zona de amortização que impediria que os efeitos nefastos de algum acidente afetassem seres humanos. Com isso, cada usina nuclear de uns 4GW seria o centro de um parque natural de uns 60Km de raio e 10.000Km2 de área. Com umas vinte dessas, teríamos uma geração elétrica igual ao total hoje produzido no Brasil, e uma área protegida nas regiões mais densamente povoadas no Brasil igualmente dobrada. E, como algumas inevitavelmente seriam feitas nas margens de rios, ainda ajudariam, pela conservação da vegetação, a mitigar as perdas de vazão das hidrelétricas.

3.10.11

Os bons ares e ventos da terra de Piratininga

Saiu, com algum estardalhaço, a notícia no jornal: São Paulo tem o ar menos poluído do que o de outras cidades brasileiras. A notícia, claro, é uma demonstração razoável do perigo de ler só a manchete, e do quanto de informação (que normalmente não é ensinada) é necessário para ler coisas que parecem simples. Ela vai, claro, totalmente contra o senso comum; todo mundo reclama da poluição paulistana, afinal. Normalmente, eu seria o primeiro a ficar feliz com a evidência científica contrariando o senso comum, mas (como sempre) a evidência científica não é algum fato em si caído das mãos de um Deus onisciente. Então, o que diz realmente a notícia, e por que o senso comum, no caso, tá certo mesmo?

Vamos lá: pra começar, a notícia não fala de "poluição do ar" num sentido abstrato, mas de um componente específico da poluição atmosférica, que é a taxa de particulados finos. Particulados finos podem ser traduzidos como fumaça invisível; ao contrário dos particulados grossos, visíveis mesmo em volumes relativamente reduzidos. São partículas com menos de 2,5 mícrons de diâmetro, que inaladas são as principais responsáveis por algumas doenças respiratórias; assim como no caso dos particulados grossos (entre 10 e 2,5 mícrons), as principais fontes de emissão deles são os veículos pesados (ônibus e caminhões) e a indústria em geral. Dessa lista de fontes, se pode ver, mais do que pelo próprio nariz, que há algo errado com a posição de São Paulo como cidade limpa - a desproporção entre tanto a frota de caminhões quanto a indústria paulistanas e a de outras metrópoles brasileiras é maior do que a diferença de área. A RM de São Paulo sozinha tem mais indústria do que qualquer estado brasileiro que não seja São Paulo, ainda hoje. E mais caminhões. Sem algum fator especial que "limpe" o ar, ou suje o das outras cidades, como pode o ar aqui ser mais limpo, se tem mais coisas sujando?

Pois bem, não se trata, bem entendido, da quantidade de tais partículas que "realmente existe," mas daquela que podemos medir; isso, é claro, depende de aonde estão as unidades de medição da qualidade do ar, e como elas funcionam. Ora, a CETESB tem exatamente quatro estações de medição da qualidade do ar que auferem a quantidade de particulados finos na Região Metropolitana de São Paulo. São elas: Ibirapuera (no meio do parque), Cerqueira César (no meio do Hospital das Clínicas), Pinheiros (no parque Villa Lobos), e São Caetano (ao lado do Hospital de Emergências). Três delas, portanto, em áreas grandes, arborizadas, e isoladas do tráfego. Duas longe de grandes fontes geradoras e em áreas altas da cidade (p2,5, mais pesadas que o ar, tendem a descer e não a subir). No Rio de Janeiro, em comparação, as 20 estações ficam espalhadas por toda a cidade, geralmente ao lado das grandes fontes emissoras (em SP, só é o caso da de São Caetano, próxima da fábrica da GM, e mais ou menos da Pinheiros, próxima da Marginal e da CEASA).

Não é, bem ententido, o único caso em que, por maquiagem intencional ou não, as estatísticas ficam longe de representar, seja a realidade, seja o que se pretende que elas representem. Um exemplo é o dos índices de homicídio no Rio de Janeiro e em São Paulo. Eles estão caindo atualmente, graças às milícias e UPPs e ao PCC respectivamente, sem sombra de dúvida. Mesmo levando em consideração as artimanhas estatísticas que diminuíram a taxa artificialmente em fins da década de 90 e início da de 2000, separando homicídios de outras formas de 'crimes que resultaram em gente morta," como "encontro de cadáver" e "auto de resistência (à agressão policial)," é verdade que as taxas de homicídio nos dois estados, e especialmente em suas capitais, têm diminuído. MAS... isso não quer dizer que as ruas estejam mais seguras. A imensa maioria dos assassinatos no Brasil não ocorre "nas ruas," a transeuntes incautos, noção que alimenta a paranóia urbana e deixa o Datena rico; tanto assassinos quanto assassinados são jovens excluídos da periferia, vitimados em confrontos internecinos de gangues criminosas. São essas mortes que diminuíram, e como são a maioria, diminuiu o número total.

Na verdade, as chances de você sofrer um latrocínio - tipo de assassinato da estatística que mais se aproxima da noção do assassinato do nada tão temido pela classe média nos seus bairros razoavelmente seguros - são pequenas. Mas elas estão, em São Paulo crescendo, no Rio estáveis. Ou seja, as metrópoles brasileiras são muito mais seguras do que se pensa, mas ao contrário do que se pensa estão ficando menos seguras... A lista poderia, claro, ir em frente ad infinitum. Entre a preguiça, intenções escusas, e burrice de imprensa e governo, provavelmente sai uma nova a cada dia.