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5.12.11

Motosserras a postos

O governo federal anuncia que, apesar de muito pior do que o atual, o novo código florestal (aprovado no Senado por vergonhosos 59 votos a 6) pelo menos será, ao contrário do atual, cumprido, porque vão investir em fiscalização. Há rumores de que uma senhora em Taubaté acreditou, ainda a serem investigados. Os ruralistas, que comemoraram efusivamente o novo código, não acreditaram nem um pouco, e alguns deles já ressuscitaram neste ano uma prática que não se via desde 2003: o corte raso com correntão. Explico: enquanto os desmatamentos realizados desde 2003, quando começou a haver alguma, ainda que incipiente, fiscalização foram velados, coisa que só aparece quando é um fato consumado, alguns fazendeiros no Pará e Mato Grosso estão desmatando pelo método de se amarrar uma corrente de navio entre dois tratores e sair pondo a mata abaixo. Mais descarado impossível. E um tal descaramento só pode ter uma origem: a certeza da anistia.

A certeza se justifica pelo comportamento do Executivo, revelando uma das poucas mudanças políticas reais entre o segundo governo Lula e o governo Dilma. O governo foi contra a primeira versão do código desflorestal, aprovada pela Câmara, dizem-nos, mas foi contra naquelas, tanto que o seu relator, Aldo Rebelo, continua sendo um dos líderes governistas. Da nova versão, só 99% a favor do desmatamento, foi a favor. Não custa lembrar que Marina Silva pulou fora do ministério do meio ambiente justamente por conta dos atritos com a então ministra da Casa Civil. (Não custa, também, reclamar da Marina Silva que, com sua atitude olímpica no segundo turno, pode ter preservado seu capital eleitoral udenista, mas abdicou de influência em prol do meio ambiente. Fosse apoiando Serra ou Dilma, essa seria bem maior.) Diga-se, pra ser justo, que nem todos os senadores governistas votaram a favor desse aborto. Pra ser exato, Lindinho e Requião foram contra, além de Randolfe Rodrigues e Marinor Mendes, do PSOL, e Paulo Davim, do PV. (E, bizarramente, de Fernando Collor.)

Não é que a Dilma seja o Blairo Maggi. Mas nem precisa; quando a maior e mais coesa bancada do Senado, além do poder econômico, estão a favor de algo, ser neutro já é o bastante para a catástrofe se anunciar. Não custa lembrar que o desmatamento anual sob o FH, que também não era o Blairo Maggi, e tenho certeza de que tem em privado até maiores convicções ambientais do que a Dilma, era mais de quatro vezes maior do que hoje em dia. E o que é pior: assim como os ingleses que eram contra a Guerra do Iraque, que não tinham alternativa porque o partido de oposição era mais a favor da guerra ainda, o PSDEMB é muito mais a favor do desmatamento ainda. Afinal, se apenas dois senadores governistas tiveram coragem de se opor ao governo, nenhum da oposição de direita se opôs.

Um comentário:

raph disse...

E o pior é que a Dilma provavelmente não vai vetar a anistia aos desmatadores :(