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22.3.12

Wolves at the door

O lobo é dos animais mais próximos, em seu comportamento social e nicho ecológico, do homem. Até por isso, foi o primeiro bicho a ser domesticado por nossos antepassados paleolíticos, há tanto tempo atrás que naquela época a Hebe era virgem. (Entre 7.000 e 35.000 anos atrás, pra ser exato.) Apesar, ou talvez por causa disso, nosso relacionamento com os lobos que permaneceram do outro lado da cerca sempre foi violenta como o são as brigas de família. Lobos comem a Chapeuzinho Vermelho, servem de montaria a Orcs, derrubam casas de porquinhos, comem o sol, a lua, e os deuses... há exceções, claro. As lobas parecem gostar de criar humaninhos, de Rômulo e Remo a Mowgli. Entre os povos da estepe asiática (aonde talvez tenha ocorrido a primeira domesticação) o lobo é um ancestral honrado; entre os russos, talvez por influência dos ex-patrões mongóis, o lobo é mais uma figura de trapaceiro, à João Malasartes, do que uma fera terrível. Mesmo quando é uma fera, entretanto, ele é geralmente mais loquaz, mais razoável, bem falante do que outros animais antropófagos, como o urso, o tigre, ou o crocodilo.

Fora da mitologia, as coisas são mais simples: animais perigosos deviam ser mortos. Assim é que os lobos foram extintos da Inglaterra ainda no século XV, e na Europa como um todo sobrevivem apenas em cadeias montanhosas remotas; o lobo perdeu mais território do que a maioria dos animais jamais teve. Não havia espaço para um predador cooperativo, eficiente, e faminto num campo aonde seres humanos trabalhavam. Entretanto, conforme o homem deixou de ser cercado pelo mundo e passou a cercá-lo, conforme a natureza foi se transformando em parque, em alguns lugares o bicho foi sendo reintroduzido. Hoje, pode-se encontrar lobos novamente na Escócia ou nos EUA ciscanadenses.

Nem todo mundo, evidentemente, compartilha da visão do mundo como um parque; fazendeiros das áreas em que foram reintroduzidos os lobos não são, em geral, lá muito simpáticos à idéia. Um dos problemas enfrentados na reintrodução se torna, portanto, o convencimento desse povo. Mas tem gente em escritórios mais remotos que pretende matar lobos por motivos racionais, se não muito simpáticos, e um tanto dadaístas. Assim, o governo canadense está matando lobos em prol do meio ambiente. Ou melhor, dos rebanhos de renas. A lógica é a seguinte: a extração de petróleo de areias alcatroadas, além de ser dez vezes pior para o efeito estufa do que a versão comum, provoca uma enorme degradação do ambiente ao redor. São rios secos, montanhas de enxofre, planícies de terra arrasada. Um cenário apocalíptico, no qual os rebanhos de renas não podem encontrar muita comida. Com seu habitat reduzido, os rebanhos sofrem uma pressão negativa; para "salvá-los," ao invés de minimizar os danos do petróleo (o que, ok, não é muito viável), retira outra pressão negativa. IE os lobos.

Nos EUA a coisa é mais, digamos, tradicional. Assim como nos tempos paleolíticos, os lobos são mortos porque competem com os caçadores humanos. Registre-se que nenhum dos dois casos representa ameaça à existência do lobo como espécie, que é classificada pela IUCN como "preocupação mínima." Só são vagamente degradantes - especialmente porque são praticados justamente pelos respectivos departamentos do meio ambiente, distorcendo a visão que levou à criação desses departamentos e ministérios.

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