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25.4.12

Back to the Black Future

Neste momento, o STF julga a constitucionalidade dos diversos sistemas de ação afirmativa (coletivamente nomeados "cotas," apesar de parte deles usarem outros mecanismos) ora em vigor nas universidades públicas brasileiras. Os argumentos usados pela advogada da parte contrária, o partido "Democratas" - não dá pra deixar de pôr as aspas, num partido que foi base de sustentação da ditadura militar - são curiosos porque parecem um pouco deslocados no tempo. São exatamente os mesmos argumentos utilizados desde 2004. Não é apenas uma questão de falta de criatividade para criar uma agenda positiva ou novos argumentos contra as cotas - e olha que até eu tentei ajudar. É que muitos dos argumentos dos "Democratas" se baseiam na hipótese de cotas raciais serem implantadas, bouleversant nosso status quo.

Deixemos à parte a defesa desse status quo ser em si falha - nesse sentido, não consigo encontrar argumento melhor do que o tratamento estatístico dado ao racismo brasileiro por Edward Telles, em seu livro Racismo à Brasileira. E o DEM não poderia encontrar símbolo melhor da cegueira necessária para fazer essa defesa do que ao apanhar uma advogada loira para representá-lo - fosse nos EUA, até o partido nazista teria arrumado uma advogada negra. Negra, gorda, e com sotaque do sul.

A questão é que todas as hipóteses quanto à implantação de cotas se tornam um tantinho ultrapassadas quando as tais cotas já foram implantadas e estão sendo aplicadas por sete anos. É um pouco como dizer "se passares dessa linha morrerás" para alguém que já está pulando para um lado e outro da solheira do templo faz sete anos. As cotas não são uma hipótese, são uma realidade. Podemos estudar os efeitos que elas realmente tiveram, e não elocubrar sobre seus efeitos a partir de nossos fumos filosóficos, ou do que gostaríamos que fossem nossos fumos filosóficos e são um amontoado de senso comum míope e preconceituoso.

E adivinha quais são esses efeitos reais? Primeiro, que realmente as cotas raciais não são uma cura instantânea para o racismo, e geralmente nem são inteiramente preenchidas. Ponto para os Demos. Mas todos os outros resultados os desmentem. Não recrudesceu o racismo em geral (a não ser que você paute a existência de racismo apenas pelo número de pessoas que dele reclamam ao invés de resignar-se). Longe de os cotistas atrapalharem as aulas na universidade branca,  "segundo a Uerj, o índice de abandono entre os cotistas é menor que entre os não cotistas. O índice de reprovação entre os dois grupos é maior entre os não cotistas em todo o período." Nenhum profissional formado graças às cotas relata preconceito contra ele baseado nelas (até porque não tem escrito no diploma "admitido graças a cotas raciais"), e são poucos os profissionais negros que atribuem o preconceito que sofrem às cotas (como se "médico negão" não causasse suspeitas antes de 2004).

Quando você insiste num argumento ultrapassado pelos fatos, corre o risco de ser considerado ridículo. O Dem tem tão pouco medo disso que declara, em 2012 (e, diriam as más línguas, apesar das evidências) ser contra a escravidão.


PS Não é só sobre os efeitos de cotas nos próprios alunos e em seus desempenhos que já temos estudos. Tem sobre opinião de vestibulandos e de cidadãos em geral.

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