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25.10.14

Por que petralho?

Amanhã, 2º turno das eleições presidenciais (e, graças em parte a um estelionato criminoso, não para governador), voto 13. Por quê?

Primeiro de mais nada, NÃO é por Aécio ser filhinho de papai, playboy, ou cheirador. Nada disso é relevante, mesmo que seja verdade. Também NÃO é porque ele seria traficante, corrupto, nepotista, e mentiroso, coisas relevantes, mas que sinceramente não me afetam muito. Sim, acho que com elas ele fica com uma pusta cara de Collor redivivo, ou Bush tropical, mas pra mim isso faz parte da perfumaria. Antes, será por dois motivos que o aproximam, respectivamente, do Bush e do Collor: a ideologia e o poder.

A ideologia é bastante simples. Assim como Bush, e ao contrário do que pensa o povo do "é tudo igual," Aécio representa o primeiro pleito presidencial desde 2002 em que o PSDB deu as caras, pelo menos parcialmente, de sua ideologia, com a enorme exceção de não admitirem que são contra o bolsa-família em público. (Apesar da enorme passada de recibo misturada com preconceito contra nordestino quando refletiram sobre o primeiro turno.) São contra a redistribuição de renda ("meritocracia"), são a favor de um Estado mais fraco ("enxugamento da máquina"), são a favor da privatização de ativos públicos ("não sei o que vai sobrar da Caixa e do BB") e da desregulamentação do mercado, cuja mão invisível proverá. E essa, a parte econômica, é a parte da ideologia que move a candidatura Aécio com que posso ter uma divergência saudável, porque também tem a parte do controle social, em que os coronéis telhadas e malafaias ditam o jogo, e que acho imoral mesmo. Redução da maioridade penal com cadeias privadas. Ataque aos direitos das mulheres. Bullying, com motivação ideológica, dos países vizinhos, puxando os ovos americanos. E por aí em diante.

Dizer tudo isso não significa, claro, achar que o governo do PT, especialmente o de Dilma, está alinhado com minha própria visão do mundo. Não está, nem de longe; uma das tags deste blogue não é "Dilmá" à toa. Dilma não faz nada contra o punitivismo e as PMs, e muito pouco pelos direitos LGBT; acredita em desenvolvimento econômico à custa do meio ambiente e tem uma relação no mínimo tumultuada com as comunidades marginais e tradicionais. Mas enquanto o PT falha por não enfrentar o conservadorismo, ou por absorver parte dele, Aécio é o conservadorismo. Há uma diferença entre não ser contra e ser a favor, entre ser aquilo que eu não gosto e se aliar; Não houvesse, tenho certeza que nos lembraríamos do Stalinista Roosevelt. Não custa lembrar, por exemplo, que o PT foi o único partido grande a ser contra (quase em peso - um tal Loubet foi a favor) do novo e horrendo código florestal, e que Dilma vetou boa parte do documento. O PSDB foi majoritariamente a favor, incluindo o hoje candidato Aécio Neves. Chame, para quem discorda do PT à esquerda, de máxima antitiririca: pior do que tá fica.

Pra além da ideologia, o poder. A semelhança entre Aécio e Collor é a adulação que lhe dão a imprensa e aquela entidade nebulosa apelidada de "O Mercado." Assim como Collor era o caçador de marajás, Aécio aparece na Veja como um superherói (literalmente), enquanto o PT é sempre um vilão. Do mesmo jeito, enquanto denúncias fartamente comprovadas contra o PSDB geralmente morrem na areia, o domínio de fato, "não existem provas mas a literatura me permite" já é suficiente para condenar petistas. Não significa, a paráfrase da ministra Rosa, que eu ache que Dirceu & Co eram inocentes, mas antes que com eles a justiça funcionou. Imprensa, judiciário, tribunais de contas, Congresso: são todos modos de se controlar o Executivo. Mas só funcionam se existe seja alguma imparcialidade, que definitivamente não é o caso, seja uma oposição mesmo. Não é que eu creia que o PT seja mais honesto por ímpeto próprio, convicção interna ou fortaleza moral; é que será pego nas besteiras que cometer, será julgado pelo juiz ou pela opinião pública. Aécio, o superherói, pode fazer o que quiser sem ser julgado. E com o poder sem peias vem... como era aquela frase do Lorde Acton mesmo...?

Ah sim, "o poder corrompe. O poder absoluto corrompe absolutamente." Quem tem só a presidência não tem o poder absoluto. Ao contrário de quem tem a presidência, o Congresso, a mídia, o capital, o judiciário...

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